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Simpósio sobre Arquitetura Popular no V ENANPARQ 2018
Simpósio sobre Arquitetura Popular no V ENANPARQ 2018
Igatu / Chapada Diamantina-Ba, 2016.
Espigueiros. Portugal, 2017.
Espigueiros. Portugal, 2017.

Favela

ISBN ou ISSN: 

Não se aplica

Autor(es): 

Margaret Lica Chokyu

Referência bibliográfica: 

CHOKYU, Margaret Lica. Regras do espaço informal: a gramática da Forma na Rocinha. 2017. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de janeiro.
 

Eixos de análise abordados: 
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Margaret Chokyu possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela FAU/UFRJ (1997) e mestrado em Arquitetura - PROARQ - FAU/UFRJ (2006) na área de concentração de História e Preservação do Patrimônio Cultural. Atualmente é professora assistente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo no Departamento de Análise e Representação da Forma da UFRJ. Atuou entre 1998 e 2007 como arquiteta e urbanista, realizando projetos residenciais, comerciais e de urbanismo de comunidades. Entre 2008 e 2009 foi arquiteta do Escritório Técnico da Universidade (ETU/UFRJ), na Divisão de Preservação de Imóveis Tombados (DIPRIT), onde foi chefe da seção de projetos. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em História e Preservação do Patrimônio Cultural, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura, arquitetura de museus, restauração, movimento moderno e urbanismo.
Informações obtidas em: https://www.escavador.com/sobre/7243293/margaret-lica-chokyu-renteria
 

Sumário obra: 

INTRODUÇÃO

  1. GRAMÁTICA DA FORMA
  2. A ROCINHA
  3. A GRAMÁTICA NA ROCINHA

CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 

Resumo : 

A vasta tecnologia disponível nos dias atuais, e as suas ferramentas digitais, possibilitam à arquitetura mudanças relativas à prática projetual e a elaboração de desenhos. Sendo assim, uma das áreas de investigação da arquitetura que pode se beneficiar desses avanços é a da Habitação de Interesse Social (HIS). Isso porque as tecnologias podem ser empregadas de modo a reduzir os custos de produção e auxiliar no desenvolvimento de novas formas, técnicas e materiais construtivos. Portanto, este trabalho aborda o conceito da Gramática da Forma como sendo uma boa ferramenta para auxiliar a elaboração de projetos de HIS, personalizados e produzidos em massa. A Gramática da Forma é um formalismo computacional que pode ser aplicado à arquitetura e urbanismo, especialmente, na análise da forma arquitetônica e urbanística, pois permite o desenvolvimento de metodologias objetivas na identificação de tipos ou grupos arquitetônicos. Logo, para que esse conceito seja aplicado é fundamental que se faça a análise de exemplos existentes, e que a partir deles se busque padrões, os quais servirão para a definição de regras e parâmetros a serem utilizados em projeto. Assim sendo, a hipótese levantada por esta tese é a de que apesar de as habitações informais aparentarem falta de unidade em sua composição volumétrica, há nelas um padrão de composição que leva em consideração as necessidades da família, o sítio e respostas a problemas que se repetem nas construções. Os projetos baseados na Gramática da Forma poderão, portanto, segundo Chokyu, contemplar as individualidades de cada núcleo familiar e, agilizados pela rapidez da tecnologia, minimizar custos, ainda assim adotando um partido arquitetônico. Em vista disso, entendendo a relevância desta ferramenta, o objetivo deste trabalho foi o de definir uma Gramática da Forma para as edificações de caráter residencial de uma área específica da Favela da Rocinha (maior assentamento informal do país), Rio de Janeiro. Para a execução deste trabalho, as suas edificações foram examinadas tanto no que diz respeito à articulação dos interiores, quanto às volumetrias, e ainda quanto à relação dessas residências com a via limítrofe. Apesar da aparente falta de qualidade das edificações, a Autora conseguiu verificar que as soluções construtivas são reflexo de condições impostas pelo sítio e pela situação financeira dos moradores. Além disso, as residências são elaboradas e construídas de maneira espontânea, por vezes baseadas em tradições orais, e, também, verticalizadas, uma vez que não há espaço livre para a ampliação horizontal. Conclui-se, portanto, que a forma das edificações é resultado do processo de ocupação do território e da adaptação à topografia, o que gera um agrupamento de morfologia complexa, associado a um conjunto urbano bastante denso. A análise da Rocinha permitiu o estabelecimento de regras que se propõem a formular novas soluções construtivas, além de viabilizar a elaboração de projetos personalizados para cada família. Foram analisadas no total nove residências, em cinco edificações, todas assentadas na área estudada, sendo quatro delas residenciais, (duas unifamiliares e duas multifamiliares) e uma de uso misto, todas variando de quatro a seis pavimentos. O trabalho de definição da Gramática da Forma teve início com a descrição dos elementos característicos encontrados no corpus da análise. Para tanto, os imóveis foram medidos, fotografados, desenhados, sempre observando os elementos visíveis in loco, como a composição volumétrica, as proporções e as distâncias, pois, por meio dessas observações, poderiam ser estabelecidas as regras de construção. As regras indicam as condições às quais as relações espaciais devem obedecer e são aplicadas algoritmicamente sobre a forma inicial. Durante a formulação da Gramática, as regras foram testadas para verificar possíveis erros de formulação. Também foram realizados os diagramas em árvore, que demonstram as várias formas e sequências em que as regras definidas podem ser aplicadas, mostrando os diversos caminhos e resultados possíveis. A pesquisa deixou evidente características relativas às edificações que permitiram estabelecer 46 regras. Entre estas cabe destacar as mais recorrentes: cem por cento das casas têm a porta de entrada localizada na sala de estar; com a exceção de quitinetes, todas as residências apresentam a cozinha desmembrada da sala; há sempre pelo menos um banheiro na residência; é comum a falta de relação entre as plantas dos pavimentos de uma mesma construção, na maior parte dos casos, o único elemento comum às planta é a escada; a “laje”, na cobertura, é um elemento diferencial, uma vez que funciona como quintal, área de lazer e também área de serviços. Muitas das construções possuem mais de 3 pavimentos sem que haja uma preocupação com a composição das fachadas. É como se as fachadas fossem resultado do arranjo interno e também da condição financeira dos moradores. Muitas das casas apresentam balanços nas lajes, que extrapolam as paredes das fachadas em aproximadamente 35 centímetros. Sempre há pequenos vãos entre as casas e é por onde passam as tubulações hidro sanitárias. Algumas das casas possuem varanda e as caixas d’água são elementos muito visíveis e marcantes quando se vê as casas do alto. Todas as escadas têm dimensionamento fora dos parâmetros estabelecidos pela fórmula de Blondel e, geralmente, são estreitas, íngremes e de abertura mal dimensionada no encontro com a laje superior. As estruturas das casas são superdimensionadas e capazes de suportar alvenarias colocadas em pontos diferentes com relação ao pavimento imediatamente inferior. Os levantamentos realizados nas residências da Rocinha fizeram entender como é dada a articulação dos espaços e dos volumes das edificações, sempre de acordo com a realidade do orçamento familiar e procurando atender às necessidades dos moradores. A identificação da gramática construtiva das residências estudadas permitiu verificar que suas características correspondem a soluções obtidas nos diagramas construídos teoricamente. A Gramática da Forma, portanto, demonstrou ser vantajosa no sentido de propor soluções para a questão da moradia, uma vez que parte da busca de padrões de composição criados pelos próprios usuários e permite a percepção de soluções recorrentes.
 

 

Data do Preeenchimento: 
terça-feira, 1 Maio, 2018 - 17:30
Pesquisador Responsável: 

Laís Souto Novaes

Data da revisão: 
quinta-feira, 17 Maio, 2018 - 17:30
Responsável pela Revisão: 

Márcia Sant'Anna

ISBN ou ISSN: 

ISBN: 978-85-7785-195-9

Onde encontrar: 

Acervo do GP ARQ POP
 

Referência bibliográfica: 

MAGALHÃES, Alex Ferreira. As instituições do Direito das Favelas: dinâmicas e conflitos no exercício do “direito de construir”. In: MAGALHÃES, A.F. O Direito das Favelas. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2013, p. 325-446
 

Eixos de análise abordados: 
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Alex Ferreira Magalhães graduou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em 1990. Possui especialização em Sociologia Urbana (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 1995) e Mestrado em Direito da Cidade (Faculdade de Direito, 1999), ambos pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É doutor em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional / IPPUR, 2010). Tem experiência nas áreas de Direito (ênfase em Direito Urbanístico e Direito Civil), Planejamento Urbano (ênfase em Planos Diretores, instrumentos de política urbana, e Regularização Fundiária), Ciências Sociais (ênfase em Sociologia Urbana) e Metodologia da Pesquisa. É Professor Associado I da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lotado no IPPUR, ministrando as seguintes disciplinas: Direito Urbanístico, Direito Ambiental e Teoria e Instrumentos de Planejamento Urbano, no curso de graduação em Gestão Pública; Direito Urbanístico, Planos Diretores, e Assentamentos Precários nos cursos de Pós-Graduação (Especialização, Mestrado e Doutorado) em Planejamento Urbano e Regional. No período 2015 - 2016 exerceu a Coordenação Geral do II Seminário Nacional sobre Urbanização de Favelas (II URBFAVELAS), realizado no Rio de Janeiro, em novembro / 2016.
Informações obtidas em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4776231H6
 

Sumário obra: 

INTRODUÇÃO

  1. As favelas e a legislação: da tolerância relativa à regularização, passando pela remoção
  2. Conhecendo o Direito das Favelas: a partir de um caso concreto
  3. As instituições do Direito das Favelas: a configuração da propriedade imobiliária e seus processos de formalização
  4. As instituições do Direito das Favelas: dinâmicas e conflitos no exercício do “direito de construir”

CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 

Resumo : 

Neste capítulo, Magalhães discute as dinâmicas das construções na favela Parque Royal (Ilha do Governador, Rio de Janeiro) e os conflitos envolvidos no processo de regularização fundiária no contexto pós-obra de urbanização do Programa Favela-Bairro. O autor utiliza depoimentos colhidos junto aos moradores e aos agentes que atuaram na fiscalização edilícia da favela para embasar suas formulações, e apresenta fotos, mapeamento de gabaritos e plantas baixas de alguns lotes para ilustrar as situações discutidas. Após as obras de urbanização do Parque Royal, cuja execução iniciou-se em 1996 e terminou em 2002, o valor imobiliário cresceu e teve como consequência a verticalização das edificações. Embora tenha sido instalado um Posto de Orientação Urbanística e Social (POUSO) no Parque Royal, como ocorre nas favelas contempladas pelo Favela-Bairro, a fim de prover assistência técnica aos moradores para que as edificações sejam realizadas à luz da regulação estatal, a autoconstrução sem assistência técnica persistiu como dinâmica predominante. Segundo relatos de moradores, no Parque Royal, não se procura assistência técnica formal na hora de edificar: o morador atua como arquiteto, engenheiro e pedreiro, contratando, no máximo, este último profissional para auxiliar na edificação. A predominância da autoconstrução pode ser explicada por alguns fatores, tais como: o alto custo de contratação de profissionais especializados e a possibilidade de remuneração indireta dos envolvidos a partir das relações sociais estabelecidas entre os moradores da favela, o que proporciona a redução de custos da obra. No que diz respeito à resistência em solicitar os serviços do POUSO, o autor constata a existência de um “discurso do desconhecimento”, que seria uma estratégia (não necessariamente consciente) de reação do morador ao poder do Estado e à sua tentativa de efetivar normas que interferem no direito de construir na favela. O aludido “desconhecimento” faz referência às normas edilícias estatais, à existência, ao funcionamento e às atribuições do POUSO e aos procedimentos necessários para a realização de uma construção regular. O autor discute também a existência de um desconhecimento real do trabalho do POUSO por parte dos moradores, que pode ser justificado, dentre outros fatores, pela descontinuidade das ações da prefeitura e pela redução do número de funcionários atuantes no local. Alguns dos problemas relacionados à verticalização nesta favela são consequência direta do processo de autoconstrução. Isso acontece, porque, muitas vezes, o novo pavimento a ser construído é uma unidade que não pertence à mesma família que iniciou a edificação. Os novos moradores realizam, assim, a nova construção da forma que julgam mais adequada. Em outros casos, o imóvel é vendido para terceiros, que não possuem qualquer conhecimento sobre o processo anterior de construção, o que acarreta a realização de ampliações ou reformas com grande margem de incerteza sobre a capacidade da estrutura. A adaptação de normas urbanísticas às possibilidades da favela não é suficiente para que a regularização fundiária se torne intrínseca ao ato de construir naquele território. A compreensão dos moradores sobre a existência, a necessidade e a aplicabilidade das normas urbanísticas e sobre o que eles consideram como o seu direito de construir são fatores essenciais para se entender a dinâmica dos processos construtivos no Parque Royal. O autor considera que há uma concepção de isonomia que rege o imaginário dos moradores da favela, segundo a qual, o direito usufruído por um morador deve ser estendido a todos, o que torna um grande desafio a manutenção do gabarito estabelecido pela norma, por exemplo. A proximidade da favela ao aeroporto do Galeão define o limite de altura das edificações da área destinada a preservar a segurança dos voos e das próprias edificações. Os gabaritos estabelecidos basearam-se nas pré-existências, na dimensão das ruas e nas áreas de risco (seja pela maior proximidade da pista do aeroporto ou pelas condições do solo), porém a observação do seu cumprimento frente à regularização depende de outros fatores, além da absorção pelos moradores da existência de uma norma vigente. O conceito de pavimento não é entendido de maneira uniforme na favela, visto que alguns não consideram o terraço como pavimento, a depender da existência de determinados elementos construtivos nele e da sua função espacial para os moradores. As divergências de compreensão do que é regular para os agentes estatais e para os moradores e a dualidade existente entre o saber técnico e o popular constituem os principais conflitos na dinâmica edilícia pós-urbanização. O ato de ampliar a edificação é definido mais pelas possibilidades financeiras do morador do que pela obediência às normas vigentes. O mesmo acontece com a concepção formal da edificação, que toma como referência as edificações vizinhas e não o Código de Obras local. A informação que o morador tem sobre a qualidade da fundação e da estrutura realizadas é determinante para a sua decisão de edificar mais pavimentos, o que aponta para a influência de uma série de fatores na decisão de verticalizar a construção, além de questões pessoais que devem ser atendidas, mesmo que em detrimento do que foi definido pela regulação urbanística. Dessa forma, compreende-se que embora exista o mecanismo de controle e a orientação sobre a viabilidade da edificação (por agentes do POUSO, por exemplo), o que determina a construção não é a norma jurídica, nem a avaliação profissional e sim o desejo e a necessidade do morador. Assim, o autor aponta a persistência no Parque Royal da prática de primeiro edificar e depois buscar orientação profissional e regularização, o que dificulta a transformação da favela em bairro. O autor conclui que para existir uma regulação efetiva e uma integração real da favela à cidade, é preciso mais do que a criação de normas adaptadas à aquela realidade, e sim um investimento contínuo na fiscalização e orientação do ato de edificar naquele espaço.

 
 

Data do Preeenchimento: 
quarta-feira, 18 Julho, 2018 - 15:00
Pesquisador Responsável: 

Natália Bessa

Data da revisão: 
segunda-feira, 27 Agosto, 2018 - 15:00
Responsável pela Revisão: 

Márcia Sant'Anna

ISBN ou ISSN: 

ISBN: 978-85-7785-195-9

Autor(es): 

Alex Ferreira Magalhães

Onde encontrar: 

Acervo do GP ARQ POP
 

Referência bibliográfica: 

MAGALHÃES, Alex Ferreira. Conhecendo o Direito das Favelas a partir de um caso concreto. In: MAGALHÃES, A.F. O Direito das Favelas. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2013, p. 127-233
 
 

Eixos de análise abordados: 
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Alex Ferreira Magalhães graduou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em 1990. Possui especialização em Sociologia Urbana (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 1995) e Mestrado em Direito da Cidade (Faculdade de Direito, 1999), ambos pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É doutor em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional / IPPUR, 2010). Tem experiência nas áreas de Direito (ênfase em Direito Urbanístico e Direito Civil), Planejamento Urbano (ênfase em Planos Diretores, instrumentos de política urbana, e Regularização Fundiária), Ciências Sociais (ênfase em Sociologia Urbana) e Metodologia da Pesquisa. É Professor Associado I da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lotado no IPPUR, ministrando as seguintes disciplinas: Direito Urbanístico, Direito Ambiental e Teoria e Instrumentos de Planejamento Urbano, no curso de graduação em Gestão Pública; Direito Urbanístico, Planos Diretores, e Assentamentos Precários nos cursos de Pós-Graduação (Especialização, Mestrado e Doutorado) em Planejamento Urbano e Regional. No período 2015 - 2016 exerceu a Coordenação Geral do II Seminário Nacional sobre Urbanização de Favelas (II URBFAVELAS), realizado no Rio de Janeiro, em novembro / 2016.
Informações obtidas em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4776231H6
 

Sumário obra: 

INTRODUÇÃO

  1. As favelas e a legislação: da tolerância relativa à regularização, passando pela remoção
  2. Conhecendo o Direito das Favelas: a partir de um caso concreto
  3. As instituições do Direito das Favelas: a configuração da propriedade imobiliária e seus processos de formalização
  4. As instituições do Direito das Favelas: dinâmicas e conflitos no exercício do “direito de construir”

CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
 

Resumo : 

No capítulo “Conhecendo o direito das Favelas a partir de um caso concreto”, Magalhães apresenta a favela Parque Royal, estabelecida no bairro da Portuguesa, na Ilha do Governador (Rio de Janeiro), como um caso de estudo para entender e discutir a questão fundiária no território da favela. Embora o autor formule suas considerações sob um ponto de vista predominantemente jurídico e sociológico, para o fichamento deste capítulo, foi privilegiado o que diz respeito à concepção, ao uso e à apropriação do espaço da favela. O autor utiliza desenhos esquemáticos, fotos e vistas superiores para ilustrar o processo de espacialização, crescimento e mudança na morfologia da favela Parque Royal. Utiliza também a pesquisa empírica realizada com moradores e outras pessoas que interagem com essa favela, no intuito de melhor compreender o seu espaço e as suas dinâmicasA favela Parque Royal foi escolhida pelo autor como referência para a primeira etapa da sua pesquisa por ter sido uma das primeiras favelas beneficiadas pelo Programa Favela-Bairro, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, constituindo assim um dos casos em que se pode observar há mais tempo uma atualização das relações entre Estado, favelas e cidade. A favela Parque Royal tem a sua origem na década de 1960, e o seu surgimento, assim como o de outras favelas na Ilha do Governador, foi diretamente influenciado pelo desenvolvimento da região e pelas oportunidades de trabalho lá surgidas entre as décadas de 1950 e 1970. As pessoas que iam trabalhar nas obras passavam a se estabelecer na Ilha e a construir com as sobras de materiais lá geradas. Os primeiros barracos eram de madeira e não tinham acesso a qualquer infraestrutura urbana. Os primeiros lotes eram marcados, divididos e vendidos pelos próprios moradores da favela, tarefa que depois passou a ser realizada e mediada pela Associação de Moradores, entidade que atuou de forma decisiva na organização deste espaço. Na década de 1970, essa Associação buscou cadastrar os moradores do Parque Royal, a fim de controlar a expansão da favela e conter o seu crescimento desordenado. Este tipo de iniciativa, realizada pelos próprios moradores a partir da compreensão da necessidade de se organizar o espaço, é tida pelo autor como uma oposição à crença comum de que a favela é um espaço no qual se impera a desordem. Em 1992, a partir dos moradores aglutinados pela Associação, surge a proposta de urbanizar a favela, a fim de se solucionar diversas precariedades urbanísticas existentes e atender às reivindicações feitas. Para isso, contaram com o apoio de estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ e, em conjunto, elaboraram o primeiro projeto de urbanização do Parque Royal. Embora esse projeto não tenha sido descrito pelo autor, ele é uma preferência de muitos dos moradores em detrimento do projeto realizado pela prefeitura, por ter contemplado às reivindicações a partir da racionalidade dos próprios moradores e da sua maneira de conceber e interagir com os espaços da favela. Uma problemática muito presente na configuração dessa favela parte do conflito entre espaço público, espaço privado e suas delimitações. É citado como exemplo um debate entre moradores, por volta da década de 1980, que pretendiam ocupar uma área recentemente anexada à favela e, antes de edificarem em seus lotes, discutiram a constituição desse novo espaço, decidindo se optariam por “fazer rua” ou “fazer beco”. Caso optassem por fazer beco, ganhariam mais área para dividir novos lotes e mais casas seriam edificadas, porém, no fim, optaram por “fazer rua”, pois, prevendo a chegada do progresso na favela e uma futura obra de urbanização, já haveria uma rua para emendar com as demais e para ser acessada por serviços públicos prestados à área, como coleta de lixo e atendimento médico de emergência. Dessa maneira, não seria necessário desabrigar os moradores dos lotes que se encontrariam no espaço da rua. Esse debate demonstra a preocupação dos moradores com a configuração do espaço urbano e a sua atuação ativa na constituição morfológica desse espaço. No que diz respeito à atuação da Associação de Moradores como mecanismo de regulação dos espaços da favela, informa-se que não havia uma clara definição de parâmetros urbanísticos para a ocupação do solo, mas havia uma tentativa de organizar aquela ocupação, definindo-se os limites do que seria o espaço público e o das edificações. O projeto de urbanização promovido pelo programa Favela-Bairro trouxe alterações significativas para o Parque Royal. Uma alteração interessante do ponto de vista da relação entre espaço público e espaço privado foi a transformação do enorme campo de futebol existente, que constituía uma área subutilizada, em uma praça pública, o que fez com que a organização interna das edificações do entorno se modificasse. Antes desse projeto, as áreas de serviço das residências ficavam voltadas para o campo. Depois, essas áreas passaram a ser de uso social das residências, implicando na alteração das suas fachadas, o que mostra a influência do processo de urbanização do espaço público na dinâmica interna das habitações. Outra consequência, apontada pelo autor, do processo de urbanização, foi o aumento do valor imobiliário na área da favela, o que provocou situações de especulação e promoveu disputas internas sobre o direito à terra. O uso das edificações no Parque Royal é predominantemente residencial e o gabarito é baixo, por volta de 2 ou 3 pavimentos. A altura das construções é também influenciada pela localização desta favela, próxima ao Aeroporto do Galeão, em função da segurança das edificações e dos voos. Contudo, há construções que ocupam a área non aedificandi próxima ao aeroporto e excedem o número permitido de pavimentos, uma das questões pendentes até o momento de escrita do livro, que demandam solução no processo de regulação da favela. Essa situação aponta para uma das conclusões do autor, que diz respeito à dificuldade de se aplicar as normas urbanísticas que regem o resto da cidade em áreas de favela e a necessidade de alteração dos parâmetros vigentes para que se possa regulamentar a construção nessas áreas. No que diz respeito aos materiais construtivos das edificações, o autor aponta a evolução das construções a partir de barracos de madeira até a sua transformação em casas de alvenaria como um sinônimo de melhoria das condições de vida dos moradores da favela. A evolução construtiva, junto com as qualificações proporcionadas pelo projeto de urbanização, trouxe a alguns moradores o questionamento se a denominação de favela ao Parque Royal seria cabível, pois, no entendimento deles, o termo “favela” seria aplicável a um local com condições muito mais precárias e insalubres do que as encontradas na “comunidade nobre” na qual havia se transformado o Parque Royal. Em suma, o autor defende que a favela não é, por natureza, um espaço de desordem e de liberdade urbanística absoluta, e que é necessário entender as dinâmicas e a racionalidade existente no seu espaço a fim de se poder realizar uma intervenção eficaz.

 

Data do Preeenchimento: 
terça-feira, 1 Maio, 2018 - 15:00
Pesquisador Responsável: 

Natália Bessa

Data da revisão: 
terça-feira, 19 Junho, 2018 - 15:00
Responsável pela Revisão: 

Márcia Sant'Anna

ISBN ou ISSN: 

Não se aplica.

Autor(es): 

Ana Carolina Amaral Martins

Referência bibliográfica: 

MARTINS, Ana Carolina Amaral. Morar na favela: estudo das representações sociais da moradia nas favelas Nova Esperança e Vila Pereira da Silva. 2007. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de janeiro.
 

Eixos de análise abordados: 
Conceitos e métodos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Ana Carolina Amaral Martins possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2004) e mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela mesma universidade (2006). Atuou na realização de projetos de arquitetura residencial e comercial. Atualmente, trabalha com pesquisa na área de arquitetura na UFRJ, com foco nos temas de habitação de interesse social, favelas e representações sociais. Em 2005, recebeu Menção Honrosa no Concurso Nacional de Anteprojetos de Habitação de Interesse Social, promovido pelo Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Amazonas (SINDUSCON- AM) e pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB).
Informações obtidas em: https://www.escavador.com/sobre/2048907/ana-carolina-amaral-martins

Sumário obra: 

INTRODUÇÃO

  1. AS FAVELAS CARIOCAS: REPRESENTAÇÕES E POLÍTICAS
  2. PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
  3. ESTUDOS DE CASO
  4. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES PROJETUAIS
  5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
  6. ANEXOS

 

Resumo : 

Nesta dissertação, a autora, apoiada na “Teoria das Representações Sociais”, busca compreender a representação da moradia pelos moradores de duas favelas cariocas e a maneira pela qual eles concretizam este ideal dentro dos limites existentes. Por meio do entendimento dessa representação coletiva de moradia, a autora visa um direcionamento mais eficaz e coerente para os projetos empreendidos por políticas de habitação coletiva. Para Martins, é preciso entender o que é o “morar bem” para os moradores das favelas, pois, apenas através da satisfação de seus anseios e necessidades poder-se-á obter sucesso na resolução dos problemas de habitação. Martins inicia a dissertação com um breve histórico dos assentamentos informais no Rio de Janeiro, das políticas públicas de habitação e da representação da favela no imaginário coletivo. A dissertação é ricamente ilustrada com plantas-baixas, gráficos e tabelas. As favelas cariocas selecionadas são “Nova Esperança” e “Vila Pereira da Silva”. Ambas ocupam uma área pequena, possuem um número similar de famílias, cerca de 500, e há pouca presença do tráfico de drogas. A Nova Esperança é uma favela de ocupação recente, década de 1990, e localiza-se na Gardênia Azul, bairro de Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro. A favela é facilmente acessada por meios de transporte e pelo traçado viário, tendo a avenida Ayrton Sena como um de seus limites. Até o momento de realização da pesquisa de campo, a favela ainda não havia sido urbanizada: suas ruas eram de terra, a distribuição de energia era inconstante e o sistema de esgoto havia sido uma obra realizada pelos próprios moradores. Quase todas as casas eram de alvenaria e a implantação se deu em um terreno plano e sem árvores. A Vila Pereira da Silva, conhecida como “Pereirão”, é uma favela cujo processo de ocupação iniciou-se na década de 1930. Localiza-se no bairro das Laranjeiras e faz limite com o bairro de Santa Teresa. A proximidade com esses bairros a dividiu em duas áreas cujas ocupações possuíam características físicas distintas: a área próxima a Laranjeiras possuía casas menores, acabamentos piores e um número maior de moradores recentes; já a área próxima à Santa Teresa possuía casas maiores, com acabamento melhor e um maior número de moradores antigos. Até julho de 2006, o Pereirão já havia passado pelo programa Bairrinho da Prefeitura do Rio de Janeiro. A favela se localiza em área de aclive, o que permite melhores condições de ventilação dentro das casas. Na pesquisa de campo, foram realizados questionários que solicitavam a associação de palavras de livre evocação relacionadas à palavra indutora “moradia” e perguntas abertas sobre o que é morar com conforto, segurança e tranquilidade. Traçou-se o perfil socioeconômico dos entrevistados e realizou-se o levantamento cadastral de edificações, quando autorizado. Por meio da associação de palavras, buscou-se definir qual era o núcleo central da representação social da moradia e que ideias compunham o seu sistema periférico. O núcleo central é composto pelas ideias mais consolidadas e compartilhadas socialmente, e que, portanto, são mais estáveis ao longo do tempo e constituem as prioridades daquele grupo. Já o sistema periférico é composto pelas influências do contexto e da experiência cotidiana na construção do conceito de morar bem, mas com ideias mais variáveis e mais rapidamente modificáveis. Em Vila Nova Esperança, as palavras “saneamento” e “tranquilidade” compõem o núcleo central, enquanto as palavras “lazer”, “lugar”, “alimentação”, “conforto”, “comunidade”, “transporte” e “trabalho” compõem o sistema periférico. O saneamento deficiente era fonte de inúmeras queixas, já a tranquilidade, associada à não-violência e ausência do tráfico de drogas, é uma qualidade que atrai moradores para o local. Portanto, nessa favela, o “morar bem” está mais associado a questões externas à própria moradia. Em Vila Pereira da Silva, a palavra “conforto” compõe, isoladamente, o núcleo central, enquanto no sistema periférico encontram-se as palavras “família”, “saneamento”, “lazer”, “dinheiro”, “luz”, “construção”, “vizinhança”, “alimentação” e “limpeza”. É importante notar que como o “Pereirão” já era uma favela mais consolidada e possuía infraestrutura urbana, as prioridades para os moradores eram diferentes das de Nova Esperança. Foi também realizado com os moradores um teste de seleção de imagens, onde deveriam escolher as três que mais tinham a ver com “morar bem” e as três que não. Foram solicitadas justificativas das imagens escolhidas, a fim de se obter informações mais precisas. Em ambas as favelas, que elegeram as mesmas imagens como as mais representativas do “morar bem”, apreendeu-se que esse conceito envolve morar em uma casa com telhado de duas águas, isolada no terreno, inserida em um entorno agradável (cercada pela natureza) e tranquilo, confortável e bonita. Quanto à escolha das imagens menos representativas do “morar bem”, notou-se uma repulsa pela ideia de morar em apartamentos e por elementos que lembrem a “favela”, de modo geral. Em cada um dos casos, a imagem eleita como menos representativa do “morar bem” foi a imagem da própria favela analisada. Foram também escolhidas imagens de conjuntos premiados, elaborados por arquitetos, nas quais a semelhança com a estética da favela não era agradável aos moradores. Além disso, a própria representação da “favela”, presente no imaginário da sociedade como lugar de violência, desorganização, aglomeração de pessoas, e a condição de aclive (no caso do Pereirão), causam rejeição em grande parte dos entrevistados. A análise das plantas-baixas das residências foi essencial para o entendimento de como os moradores buscavam concretizar, dentro dos limites possíveis, elementos constituintes do “morar bem”, o que tornou possível notar suas prioridades. Martins analisa plantas-baixas de diferentes residências, desde as muito pequenas até as relativamente grandes, e observa que, em ambas as favelas, é comum a presença de um cômodo multifuncional (geralmente “sala”, em Nova Esperança, e “quarto” em Vila Pereira da Silva) e também a escassez de divisórias internas, cabendo aos móveis realizar esta separação de funções. Além disso, é muito raro encontrar espaços destinados unicamente à circulação, o que faz com que os próprios cômodos exerçam essa função, havendo perda de área útil. A compartimentação dos cômodos, a quantidade adequada de fenestrações e a presença de varandas e quintais são elementos que, quando existentes, revelam uma tentativa de concretização do ideal de “morar bem”. Ao analisar as residências, Martins observou que, embora essa concretização esteja muito aquém do que é idealizado, existem aproximações que podem ser verificadas quando a casa é unifamiliar, possui mais privacidade, tem contato com a natureza por meio de um quintal e apresenta espaços generosos, internos ou externos. A autora pondera que muitos projetos de habitação de interesse social não abrangem estes elementos, o que pode causar sua não aceitação e um consequente retorno às favelas de origem. Desta forma, conclui-se que é imprescindível conhecer os moradores para os quais os projetos serão destinados e entender seus desejos e necessidades, a fim de que os projetos sejam adequados e eficazes a longo prazo e que contribuam para a melhoria da questão da habitação no Brasil.

Data do Preeenchimento: 
sexta-feira, 1 Março, 2019 - 09:30
Pesquisador Responsável: 

Natália Cristina Ribeiro Bessa

Data da revisão: 
segunda-feira, 20 Maio, 2019 - 17:30
Responsável pela Revisão: 

Marcia Sant’Anna

ISBN ou ISSN: 

Não se aplica.

Autor(es): 

Tales Oliveira

Onde encontrar: 

Biblioteca da Faculdade de Arquitetura da UFBA;
https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/11570
 

Referência bibliográfica: 

OLIVEIRA, Tales B. L. G. Como se faz uma favela: práticas e cotidiano na produção do espaço urbano “periférico”. 2011. Tese (Doutrado em Arquitetura e Urbanismo). Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal da Bahia, Salvador.
 

Eixos de análise abordados: 
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Tales Oliveira possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1998), Mestrado em Urbanismo pela Université de Tours (Université François Rabelais) (2000) e Doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (2011). Atualmente é Professor Adjunto da Escola de Arquitetura da UFMG. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase Projeto de Arquitetura e Teoria de Arquitetura e Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: projeto de arquitetura, concepção do espaço, habitação de interesse social, favelas e produção do espaço.
Informações obtidas em: http://lattes.cnpq.br/5287225265825348

Sumário obra: 

INTRODUÇÃO
CAPÍTULO - I - ASPECTOS HISTÓRICOS
Um Lugar Para Morar
Objetivos E Questões
Metodologia
Babilônia, Santa Marta E Novos Alagados
CAPÍTULO - II - CIDADE E FAVELA
Questões Preliminares
Fronteiras, Limites E Territórios
Cidade X Favela, Práticas E Enfrentamento
A Cidade Formal Reage
O Fenômeno Favela
CAPÍTULO - III - A PRODUÇÃO DO ESPAÇO CONSTRUÍDO
Táticas E Resistência
Adaptabilidade e Produção Do Espaço
O Espaço Produzido
CAPÍTULO IV - VIDA NA FAVELA
Violência E Estigma
Comunidade
Direito Alternativo: A Juridicidade Nas Favelas
Habitus E Produção Do Espaço
CAPÍTULO V - INTERVENÇÕES OFICIAIS
Programas De Urbanização Em Favelas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 

Resumo : 

A tese trata do processo silencioso e pulverizado de produção do espaço informal e segregação das favelas, buscando-se compreender, a partir do morador, como agente modificador, as estratégias de adaptação, as táticas de resistência individual e coletivas e sua articulação na cidade. O autor toma como referência as ocupações de Novos Alagados, Santa Marta e Babilônia, três exemplos claros da evolução desse tipo de processo de ocupação urbana. Investiga as práticas cotidianas que são capazes de modificar criativamente e adaptar o meio precário às necessidades de moradia e/ou abrigo; analisa a produção construtiva limitada nestas ocupações; e explica como se dão as relações de produto e produtor na favela. A convivência rotineira, entrevista e aproximação territorial intensa nas três localidades foram os métodos adotados na investigação. O primeiro capítulo discorre sobre toda a metodologia aplicada na pesquisa e argumentos que balizaram a construção da tese, assim são descritos os processos históricos de formação das Ocupações, as práticas de produção do espaço (de maneira introdutória), os objetivos em questão e a metodologia aplicada. O segundo, conta sobre a relação “cidade x favela” no modo como a cidade percebe a favela alocada em seu meio. Já o terceiro capítulo, aborda como a produção do espaço construído está vinculada às táticas de inserção, resistência e adaptação das Ocupações, e como estas influenciam os padrões construtivos, a organização do meio urbano, os modos de agir e a ética construtiva criada nestes assentamentos. O quarto capítulo expõe as práticas de adaptação dos moradores, necessárias para reduzir os efeitos da violência no cotidiano da favela. Por fim, o quinto capítulo apresenta e analisa, tanto as tentativas, quanto as execuções de projetos de intervenções estatais nas Ocupações, abordando quais foram as transformações no espaço e nas práticas cotidianas e a forma como estas intervenções tiveram que adaptar-se para serem executadas. Tendo em vista o objetivo deste Guia de Fontes, o capítulo três é o único que discorre descritivamente sobre as técnicas, materiais e produção construtiva informal nestas Ocupações, deste modo apenas este será resumido. Neste capítulo, informa-se que o produto da ocupação informal é espontâneo e flexível; que as construções não foram pensadas para estar ou permanecer do modo que estão para sempre; e que o conjunto do ambiente construído é resultado de um aglomerado de obras em uma série de estágios evolutivos distintos, descrito pelo autor como “processo artesanal”. Assim, o ponto de partida é a conquista do espaço, pois o acesso à terra se faz através da invasão de áreas abandonadas ou esquecidas, que são pontos de invisibilidade adequados à permanência e resistência – característica estruturante que explica diversas ocupações em Salvador e no Rio de Janeiro. Configurando-se inicialmente como uma mancha pulverizada e extensa sobre uma grande área às margens da cidade formal, sem qualquer tipo de ligação direta com esta, as invasões vão adensando-se em pontos estratégicos de conexão com o meio urbano, facilitando a acessibilidade aos locais de trabalho e de serviços públicos e começando a se fazer “visível” fisicamente. O autor ilustra esta evolução ocupacional através de fotos e mapas das três ocupações que analisa. A lógica de temporalidade da habitação segue uma linguagem particular: a ideia de “casa acabada” é um modelo quase não imaginado. As necessidades momentâneas da família são o partido construtivo e à medida que estas mudam, a habitação se adapta e a melhor solução projetual é aquela onde a possibilidade de ampliação é um fator prioritário. Por isso, é comum, inicialmente, se fazer um abrigo emergencial (barraco) de lona, taipa, madeira ou de qualquer material reaproveitado, seguido por uma estrutura mais sólida de Madeirite (chapa de compesado), ainda sem qualquer estrutura, que somente será colocada se houver necessidade de ampliação vertical. Antes disso, apenas se faz a vedação dos principais vãos com alvenaria de bloco cerâmico, um processo totalmente auto – construtivo, segundo o autor. Este, descreve que a vedação do perímetro da habitação com blocos cerâmicos define o marco construtivo. A inserção de paredes internas compõe o que os moradores definem como “casa completa”. A partir disto, a priorização está no acabamento interno, usando-se soluções criativas para maquiar qualquer aspecto de precariedade. Nas três ocupações em estudo, a implantação da habitação no contexto espacial dos assentamentos se dá de maneira adaptativa ao tipo de espaço e topografia em que está inserida. Diversas soluções resultam em construções altamente adensadas e compactadas no nível superior e com, obrigatoriamente, os térreos voltados à livre circulação nos becos e vielas. Essas soluções são ilustradas pelo autor através de cortes esquemáticos dos perfis das ruas e por fotos das ruas do Morro da Babilônia e de Santa Marta na ocupação de suas encostas. Por sua vez, a inserção sobre as águas em Novos Alagados cria um padrão distinto, que é ilustrado com croquis de Eduardo Carvalho. Neste caso, a adaptação da habitação dependerá das condições de aterramento tanto dos acessos públicos quanto das próprias casas, ocorrendo manualmente e coletivamente. A noção de “moradia digna” nesta ocupação relaciona-se diretamente a este processo. Contudo, em ambos os casos o traçado urbano é resultado espontâneo da produção imobiliária individual e das preexistências. A construção é regulada através de normas éticas internas, que levam em consideração o impacto que a nova construção terá no espaço público comum e nas construções já pré-estabelecidas. Ao final da tese, o autor chama muita atenção para os efeitos da Ação Tática na ocupação e construção das Favelas. Um processo que é originário da segregação, mas é um modo de adaptabilidade de uma população socialmente desprezada no meio urbano formal, que encontra na favela a oportunidade de se readaptar sem se distanciar da cidade, produzindo um meio pautado em suas práticas cotidianas e em sua organização sócio-política. A construção informal gera a possibilidade de produção gradativa da moradia, fator determinante que garante a viabilidade financeira neste processo e a melhor qualidade de vida para o morador.

Data do Preeenchimento: 
domingo, 22 Abril, 2018 - 15:30
Pesquisador Responsável: 

Zara Rodrigues

Data da revisão: 
quinta-feira, 26 Abril, 2018 - 15:30
Responsável pela Revisão: 

Márcia Sant'Anna

Observação: 
ISBN ou ISSN: 

Não há

Autor(es): 

Andrelino Campos

Referência bibliográfica: 

CAMPOS, Andrelino. Quilombos, favelas e os modelos de ocupação dos subúrbios: algumas reflexões sobre a expansão urbana sob a ótica dos grupos segregados. 2013. Disponível em: <http://nucleopiratininga.org.br/quilombos-favelas-e-os-modelos-de-ocupac.... Acesso em: 11 abr. 2018. 

Eixos de análise abordados: 
Território e etnicidade
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Andrelino de Oliveira Campos é formado em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (1980), possui mestrado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1998) e doutorado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2006). É autor do livro do Quilombo à favela: a produção de "espaço" criminalizado no Rio de Janeiro e, atualmente, é Professor Adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Urbana, atuando principalmente com os seguintes temas: questões étnico-raciais, discriminação/preconceitos, planejamento urbano, segregação sócio espacial, sobretudo com espaços favelados na cidade do Rio de Janeiro. É responsável pela disciplina: História do Pensamento Geográfico desde 2000; no momento desenvolve suas pesquisas junto ao grupo que coordena: o Núcleo de Estudos Sociedade, Espaço e Raça.
Informações obtidas em: https://www.escavador.com/sobre/2607815/andrelino-de-oliveira-campos

Sumário obra: 

Não se aplica.

Resumo : 

Este artigo expõe, sob a ótica da história e da geografia, o processo de segregação espacial involuntário do Rio de Janeiro surgido a partir da expansão urbana da cidade. Para tanto, o autor considera importante a análise dos espaços de Quilombos, posto que, os considera uma conformação espacial antecedente às favelas. Logo, o artigo se divide em duas partes, na primeira analisa-se a segregação a partir de uma questão étnico-racial, na qual se comparam as relações do Quilombo com o Império e as relações da Favela com a República. Na segunda parte procura-se entender o processo de ocupação e consolidação do subúrbio carioca.  Voltando-se ao passado, à época do Império, entende-se que muitos dos Quilombos se localizavam próximos à cidade e, com a abolição da escravidão em 1888, deixaram de possuir um caráter de luta, permanecendo, porém, a população que ali vivia. Em seguida, esses espaços, assentados em zonas periféricas à cidade, foram acrescidos à zona urbana, recebendo a classificação de Favelas. É assim que, em termos espaciais, a exclusão econômica se transforma em segregação, a partir da separação dos usos do solo urbano. Consequentemente, como a posse de terra se relacionava com a renda de cada indivíduo, os melhores lotes foram distribuídos entre a camada abastada da população. No entanto, a instabilidade relativa ao valor espacial cuidou de transformar as áreas centrais valorizadas, fazendo com que os casarões antigos do século XIX, antes habitados pela classe média e alta, dessem lugar às classes pobres, sendo esses transformados em cortiços. O autor considera que a história da ocupação de espaços urbanos pelos pobres do Rio de Janeiro possui três versões. A primeira e a segunda têm em comum cidadãos retornados de guerras, primeiro a Guerra do Paraguai e segundo a de Canudos. Na do Paraguai foi garantida aos escravos combatentes a alforria, e o retorno dessa população à cidade levou à ocupação de áreas precárias. Já na Guerra de Canudos se permitiu que os retornados ocupassem os morros da Providência e do Santo Antônio, inicialmente, como solução provisória que depois adquiriu caráter permanente. A terceira versão se relaciona com a destruição do chamado Cabeça de Porco, cortiço que abrigava cerca de 4000 pessoas. Esse acontecimento provocou um deslocamento em direção às encostas. Em todos os três casos, a maior a parte da população era negra e já residia naqueles espaços antes da Abolição da escravatura. Assim, pode-se presumir que a discriminação já preexistia às favelas, e que é fundamental buscar respostas na formação socioespacial do sistema escravista, ou seja, nos quilombos.  Após a construção da malha ferroviária do Rio de Janeiro tornou-se possível o surgimento dos chamados subúrbios. A princípio, a ocupação dos subúrbios se dava de forma linear, uma vez que a linha do trem era a guia dessa ocupação. Porém, aos poucos, novas ruas foram criadas por proprietários de terras ou por pequenas companhias loteadoras, dando sequência a um desenvolvimento urbano radial. Nesse momento configuram-se dois modelos de segregação: o primeiro se refere à ocupação da elite junto à área central, visto que, a mobilidade no meio urbano era limitada morar no centro era uma necessidade. O segundo modelo é o processo inverso, a alta sociedade se desloca para as áreas periféricas deixando o centro para moradia da população de baixa renda. Considerando os aspectos tratados, é importante considerar a dimensão econômica do fenômeno da segregação induzida, apesar de não ser determinante para contar a história dos grupos segregados. É necessário, ainda, reconhecer que a segregação não findou, e que há muito a ser feito no sentido de compreendê-la.
 

Data do Preeenchimento: 
quarta-feira, 11 Abril, 2018 - 14:30
Pesquisador Responsável: 

Lais Souto Novaes

Data da revisão: 
quinta-feira, 19 Abril, 2018 - 14:30
Responsável pela Revisão: 

Marcia Sant'Anna

ISBN ou ISSN: 

Não há esta informação.

Autor(es): 

Dinah Guimaraens e Lauro Cavalcanti

Onde encontrar: 

Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFBA.

Referência bibliográfica: 

GUIMARAENS, Dinah; CAVALCANTI, Lauro. Morar: a casa brasileira. Rio de Janeiro: Avenir, 1984.

Eixos de análise abordados: 
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Dinah Guimaraens nasceu em Belo Horizonte, em 1953. É professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU e Coordenadora CAPES-Cofecub n. 752/12 A Estética Transcultural na Universidade Latino-Americana; Professora Adjunta III e Chefe do Departamento de Arquitetura - TAR (junho de 2013 a junho de 2015) da Escola de Arquitetura e Urbanismo - EAU da Universidade Federal Fluminense - UFF. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Santa Úrsula - USU (1978), com extensão universitária em Semiótica Visual pelo professor Umberto Eco (1979). Publicou, juntamente com Lauro Cavalcanti, livros sobre arquitetura vernacular como Arquitetura Kitsch Suburbana e Rural (1979, 2006) e Arquitetura de Motéis Cariocas: Espaço e Organização Social (1980, 2007). Outro livro de destaque é Museu de Artes e Origens: Mapa das Culturas Vivas Guaranis (2003). Possui mestrado em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social - PPGAS- Museu Nacional - UFRJ (1992), mestrado em História Antiga e Medieval pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais - IFCS - UFRJ (1992), doutorado em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social - PPGAS - Museu Nacional - UFRJ (1998), e pós-doutorado em Antropologia pela University of New Mexico (1999). Técnica em museus desde 1983 e membro do ICOM (Conselho Internacional de Museus) da UNESCO. Arquiteta e antropóloga do Instituto Nacional do Folclore - INF - Museu Edison Carneiro; Instituto Nacional de Fotografia - INFOTO e Projeto Convergência Cultural da então FUNARTE. Chefe do Centro de Documentação - CEDOC e da Biblioteca de Artes da FUNARTE e Vice-Diretora do Museu Nacional de Belas Artes - IPHAN- MINC.

Lauro Cavalcanti nasceu no Rio de Janeiro, em 1954. É arquiteto, antropólogo e escritor. Escreveu vários livros sobre arquitetura, estética e sociedade e organizou diversas coletâneas sobre o assunto. É conselheiro da Casa Lucio Costa e da Fundação Oscar Niemeyer. Membro do conselho editorial do Iphan, é também diretor do Paço Imperial e professor da Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi/Uerj). Possui graduação em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1979), mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1987) e doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993). Atualmente é técnico em preservação cultural iv do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Teoria da Arquitetura, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura moderna, arquitetura, brasil, artes plásticas e arte.

A obra é composta por um conjunto de textos dos dois autores e esta é a sua primeira edição. Informações extraídas da própria obra e da Plataforma Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2261328991405752
http://lattes.cnpq.br/8455994720243644

Sumário obra: 

Moradia e camadas médias: íntimo, social e serviço  (Lauro Cavalcanti)

O construir na favela de Santa Marta  (Dinah Guimaraens / Lauro Cavalcanti)

Signos do sagrado: arquitetura e religiões  (Dinah Guimaraens / Lauro Cavalcanti)

Quem casa, quer casa: pau-a-pique em Vargem Grande  (Dinah Guimaraens / Lauro Cavalcanti)

Moradia e identidade étnica  (Dinah Guimaraens / Lauro Cavalcanti)

Terra do abandono: espaço e loucura  (Dinah Guimaraens)

Resumo : 

Compõem o livro seis textos produzidos entre 1981 e 1984, em que os autores usam como fio condutor o exame da relação do morador com o espaço residencial. O primeiro texto, intitulado “Moradia e camadas médias: íntimo, social e serviço”, objetiva analisar, sob a perspectiva antropológica, a organização espacial interna desses ambientes, apresentando como referência para o estudo as moradias cariocas de classe média, localizadas na zona sul e norte. Para tanto, o autor reflete sobre o atual modelo de residência que, desde o Modernismo, vem se mostrando marcado por uma valorização da privatização dos espaços. Após essa reflexão, dada no âmbito mundial do circuito formal de produção, se discute o caso brasileiro, que apresenta peculiaridade no setor de serviço, no qual se soma à imagem de ambiente evitado a de espaço denegrido. Aborda-se, individualmente, o setor social, íntimo e o de serviço, e, apesar de não fazer parte da organização espacial interna, também são feitas considerações a respeito da portaria dos edifícios, uma vez que, em nosso contexto, ela se apresenta como um demarcador social. O segundo texto, “O construir na favela de Santa Marta”, se destina a entender o que constitui essa realização. São abordadas informações gerais acerca do bairro, como o abastecimento de água, a capitação de esgoto, o fornecimento de energia, sendo os grandes focos de análise: as relações existentes na favela entre materialidade e tempo; materialidade e posse da terra; materialidade e linguagem arquitetônica; a contínua ocupação e o aproveitamento das potencialidades dos espaços ao longo das fases da obra; quem são os construtores e quais os seus papéis; as etapas construtivas e o grau de solicitação da comunidade sobre esses especialistas, assim como os significados sociais determinados por essa solicitação. Além disso, abordam o sistema de construção em mutirão e como a configuração da casa pode estar vinculada às batidas policiais, que são recorrentes no bairro. O terceiro texto, “Signos do sagrado: arquitetura e religião”, objetiva analisar como a religiosidade se expressa e influi na organização do espaço residencial. Segundo os autores, essas manifestações diferem conforme a crença professada, abordando no texto aquelas vinculadas à religião católica, à umbanda e à religião evangélica. Esse estudo lança mão de exemplos de construção popular, colhidos do livro “Arquitetura Kitsch Suburbana e Rural”, e do trabalho de pesquisa arquitetônica realizado na favela de Santa Marta, na zona sul carioca.  Busca-se entender o modo como essas religiões separam o espaço ritualístico da moradia, assim como identificar essas manifestações religiosas nas habitações, e se a maneira como elas se evidenciam apresenta alguma relação com seu grau de aceitação social. O quarto texto, “Quem casa, quer casa: Pau-a-pique em Vargem Grande”, busca fazer um registro da técnica de construir em pau-a-pique nessa localidade, uma vez que há uma ameaça concreta de extinção por causa da expansão imobiliária em áreas vizinhas. Na região de Vargem Grande, a residência não é encarada como um bem a ser herdado, mas sim o pau-a-pique, o qual é transmitido de geração para geração, estando sua aplicação diretamente ligada aos ciclos da vida. Quanto à sua execução, são abordadas os seguintes elementos: fachada; cômodos; distribuição interna; materiais; localização e seleção do terreno; mutirão; e etapas construtivas. O quinto texto, “Moradia e identidade étnica”, procura analisar as possíveis relações entre grupos étnicos e as representações sobre a aparência de suas moradias. Para isso, toma-se como base um breve estudo de caso realizado numa pequena praia situada próxima à cidade de Angra dos Reis, onde estão localizadas em torno de sete casas, bem próximas umas das outras, como também algumas moradias de imigrantes analisadas no livro “Arquitetura Kitsch Suburbana e Rural”. Os autores concluem que cada etnia elabora sua noção de casa em contraposição à suposta aparência da casa de outros grupos étnicos, apresentando um “consenso no dissenso”.  O sexto e último texto, “Terra do abandono: o espaço da loucura na Colônia Juliano Moreira”, se destina a analisar esse complexo hospitalar, que se localiza na cidade do Rio de Janeiro. O texto introduz dados acerca da ocupação tanto predial quanto humana do espaço, explica o modelo de funcionamento proposto para o hospital-colônia, sua finalidade, em que foi inspirado, e os pré-requisitos que deveriam ser atendidos no projeto. Além de abordar os aspectos relacionados à sua abertura e funcionamento (e, posteriormente, à desativação), a autora trata da apropriação do espaço pelos pacientes, enxergando-a como uma tentativa de resgate da memória individual, uma vez que esse sistema social anula suas identidades, assemelhando-se, segundo ela, aos campos de concentração. Essa apropriação é feita através de intervenções no ambiente da Colônia e nos chamados “corpos-casa”, caracterizados pelo armazenamento de objetos no próprio corpo, no interior das roupas e trouxas dos pacientes. Outro aspecto relevante do texto refere-se ao conceito de sujeira, que vem agregado à ideia de poluição social representada pela loucura, e que se encontra presente no hospital psiquiátrico através da nítida preocupação com a higiene corporal e com a limpeza dos domicílios. Os seis textos são, de modo geral, bem curtos e todos eles acompanhados de imagens. 

Data do Preeenchimento: 
domingo, 22 Novembro, 2015 - 13:00
Pesquisador Responsável: 

Estudante bolsista: Camila Contreras Novaes

Data da revisão: 
quarta-feira, 9 Dezembro, 2015 - 13:00
Responsável pela Revisão: 

Marcia Sant’Anna

ISBN ou ISSN: 

9788576173595

Autor(es): 

Mauricio de Almeida Abreu

Onde encontrar: 

Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFBA.

Referência bibliográfica: 

ABREU, Mauricio de Almeida. Reconstruindo uma história esquecida: origem e expansão inicial das favelas do Rio de Janeiro. In: Escritos sobre espaço e história / organização Fania Fridman, Rogério Haesbaert. – 1. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2014, p. 421-450.

Eixos de análise abordados: 
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Maurício de Almeida Abreu (1948-2011) graduou-se em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1970), concluiu mestrado (1973) e doutorado (1976) em Geografia pela Ohio State University. Foi professor titular do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde coordenou o Núcleo de Pesquisas de Geografia Histórica. Sua produção científica foi veiculada no Brasil e no exterior. Em 2011 recebeu a Medalha Pedro Ernesto da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, o prêmio Milton Santos da ANPUR e o Prêmio da Academia Brasileira de Letras pelo seu livro "Geografia Histórica do Rio de Janeiro: séculos XVI e XVII". O Instituto Pereira Passos e a ANPEGE concederam seu nome a prêmios de melhor tese. Sua experiência na área de Geografia teve ênfase principal em Geografia Urbana e Geografia Histórica, notadamente no que ser refere à cidade do Rio de Janeiro.

Informações obtidas em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4783046Z0

Resumo : 

O escrito tem por objetivo recuperar a história da origem e expansão inicial das favelas do Rio de Janeiro, concentrando a atenção no período entre o final do século XIX e as três primeiras décadas do século XX, de modo a resgatar toda uma história de luta pelo direito à cidade. O interesse pelo tema surgiu a partir do desconhecimento em torno dele, dificultado pelo processo laborioso de obtenção de informações, e pela grande difusão que tiveram dois trabalhos publicados nos anos 1960, que sustentam dados equivocados relacionados ao aparecimento dessas ocupações. Segundo o autor, esses trabalhos pecam ao sustentar que esse tipo de ocupação só teria se tornado peça evidente no cenário carioca a partir de 1940; e são eles: “Aspectos humanos da favela carioca”, publicado em 1960 pela Sagmacs (Sociedade de Análises Gráficas e Mecanográficas Aplicadas aos Complexos Sociais); e “Favelas do Rio de Janeiro – evolução, sentido”, de Lucien Parisse, 1969. Essa falha pode ser explicada pelos primeiros momentos de existência das favelas não ter sido acompanhado do seu reconhecimento legal, o que se deu a partir dos anos 40. O presente estudo carece de imagens, contendo apenas um desenho, e teve a imprensa como principal fonte, mas também contou com informações retiradas de arquivos. Ao dar início à explanação da sua tese, o autor aborda o quadro brasileiro e da cidade do Rio de Janeiro no final do século XIX e início do século XX, uma vez que analisar esse período é de fundamental importância para o entendimento do desenvolvimento urbano dessa cidade. Nessa análise temporal, o autor trata dos anos finais do Brasil Império, marcado pelos cortiços, como algo fundamental para a compreensão da história da cidade, e os primeiros anos do Brasil República, marcados pela transição entre sistemas de governo. Esse período de transição deixou como saldo a Reforma Pereira Passos (1903-1906), que esboçou o futuro da cidade. Segundo o autor, para entender o processo de formação das favelas cariocas, é necessário resgatar a relação existente entre essa reforma e o combate aos cortiços realizado no final do século XIX. Na virada do século, o Rio de Janeiro enfrentava constantes epidemias que assolavam a população, e instituições como a Inspetoria de Higiene Pública e a Academia de Medicina defendiam que os cortiços eram os grandes responsáveis por essas chagas, respaldando a guerra às habitações coletivas. O texto traz os argumentos higienistas que na época foram usados para legitimar a retirada dos cortiços do centro da cidade, assim como as consequências desse ato e os interesses que estavam por trás deles, resultando nas primeiras manifestações daquilo que, mais tarde, se consagrou com o termo “favela”. Com isso, o autor demonstra que o aparecimento dessas ocupações se dá anteriormente à Reforma de Pereira Passos. Apesar de já existir uma política de combate às habitações coletivas, foi com essa reforma que ela se concretizou, agravando, de uma vez, o problema da moradia. O autor se dedica então a explorar, em linhas gerais, o processo de expansão das favelas e a razão pela qual elas permaneceram no cenário carioca. Segundo ele, não há dúvidas que foi a partir do Morro da Providência que o termo incorporou-se ao cotidiano da cidade. Há indícios que a ocupação nesse morro iniciou entre 1893 e 1894, logo após a destruição do Cabeça de Porco, um dos cortiços mais populosos da cidade e que se situava no seu sopé. Esse quadro, por sua vez, reflete aquele instaurado nos tempos de cortiço, no qual a população carente da cidade necessitava que a moradia tivesse baixo custo e que se localizasse perto da sua fonte de emprego. Além de analisar a questão socioespacial, o autor explora a luta de resistência das favelas contra as ações do Estado nos anos subsequentes, e os diversos olhares que para elas foram lançados no decorrer do tempo. Nesse ponto, o texto descreve o olhar da imprensa para essas ocupações, que oscilava entre o apoio e a condenação, e também o do modernismo brasileiro, tendo esse último contribuído para sua permanência e sua ressignificação.  

Data do Preeenchimento: 
terça-feira, 8 Setembro, 2015 - 12:15
Pesquisador Responsável: 

Estudante bolsista: Camila Contreras Novaes

Data da revisão: 
domingo, 27 Setembro, 2015 - 12:15
Responsável pela Revisão: 

Márcia Sant’Anna

ISBN ou ISSN: 

978-85-7559-087-4

Autor(es): 

Mike Davis

Onde encontrar: 
Biblioteca da Faculdade de Arquitetura da UFBA 
Referência bibliográfica: 
DAVIS, Mike. Planeta Favela. Tradução de Beatriz Medina – São Paulo: Boitempo, 2006. 
Eixos de análise abordados: 
Conceitos e métodos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 
Mike Davis (1946), urbanista americano, é professor no Departamento de História da Universidade da Califórnia (UCI), em Irvine, e especialista nas relações entre urbanismo e meio ambiente. Ex-caminhoneiro, ex-açogueiro e ex-militante estudantil, Davis é colaborador das revistas New Left Review e The Nation, e autor de vários livros, entre eles Ecologia do Medo, Holocaustos coloniais, O monstro bate a nossa porta (pela Editora Record), e Cidade de quartzo: escavando o futuro em Los Angeles. A obra em exame foi publicada pela primeira vez em 2006, pela editora Verso de Londres, sob o título Planet of slums. A edição brasileira possui posfácio de Ermínia Maricato e ensaio fotográfico de André Cypriano.
Sumário obra: 
1. O climatério urbano 
2. A generalização das favelas 
3. A traição do Estado 
4. As ilusões da autoajuda 
5. Haussmann nos trópicos 
6. Ecologia de favela 
7. “Desajustando” o Terceiro Mundo 
8. Humanidade excedente? 
Epilogo: Descendo a rua Vietnã 
Agradecimentos 
Posfácio, por Ermínia Maricato 
Bibliografia 
Índice remissivo 
Créditos das imagens
Resumo : 
A obra denuncia a favelização e a precarização das condições de trabalho e vida nas cidades do chamado Terceiro Mundo como consequência, entre outros fatores, dos Planos de Ajuste Econômico impostos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial para solucionar as crises das dívidas externas dos países em desenvolvimento. Davis não se debruça especificamente sobre a arquitetura desses assentamentos, mas aporta informações importantes sobre sua espacialização, demografia e tendências de desenvolvimento contemporâneo, além de sobre a história do conceito de favela. No primeiro capítulo, informa sobre o processo de urbanização contemporâneo, caracterizado por mega e hipercidades e crescente urbanização do campo. Na Ásia haveria uma relação quase clássica entre crescimento industrial e migração urbana, mas na Índia, América Latina e África, o crescimento urbano se daria em situações de desindustrialização, falta de desenvolvimento e aumento da produção agrícola como resultado das políticas de ajuste macroeconômico e desregulamentação agrícola desenvolvidas pelo FMI e do Banco Mundial, que sufocaram toda atividade rural fora do agronegócio e empurraram essa população para as cidades nos anos 1980 e 1990, fazendo-as funcionar como “lugares de reprodução da pobreza” que têm a favelização como principal modo de urbanização. Davis baseia-se no relatório, de 2003, do Programa de Assentamentos Humanos da ONU, denominado The Challenge of Slums, que é analisado no capítulo 2, onde também se apresenta a evolução histórica do termo slum. O sentido de “lugar de degradação humana” surge em meados do século XIX e caracterizará a “favela clássica” como lugar restrito e de práticas imorais, habitações dilapidadas, excesso de população, doença, pobreza e vício. O relatório da ONU mantém essa definição, mas sem o julgamento moral, acrescentando o acesso inadequado a agua potável e a condições sanitárias, além da insegurança da posse da moradia. Davis apresenta uma classificação das favelas conforme sua localização no núcleo metropolitano ou na periferia, distinguindo, nessas localizações, favelas formais e informais. As favelas “formais” das áreas centrais são cortiços, moradias públicas para aluguel, pensões, hospedarias, abrigos. As informais provêm de invasões e de ocupações de moradores de rua. Na periferia, as favelas “formais” resultam de aluguel particular ou de moradias públicas e as informais dos loteamentos clandestinos e invasões. Além dessas, acrescenta os “campos de refugiados”. Nesses contextos, os “locatários invisíveis”, isto é, aqueles submetidos ao processo de transformação da habitação informal em mercadoria são os mais frágeis. Sobre a pobreza dentro da cidade, além dos cortiços, Davis menciona a transformação de bairros burgueses em favelas e a ocupação residencial de cemitérios, telhados, barcos e poços de ventilação, entre outras. Nas periferias, ressalta o custo prévio das invasões, em termos de propinas pagas pelo “direito” de invadir, e a ocupação de terras de baixo custo e lugares de risco, questionando as “vantagens” da invasão em termos da diluição do custo de construção. Davis não é, de fato, um entusiasta da favela como solução. O terceiro capítulo apresenta uma periodização histórica das tendências principais da urbanização da pobreza mundial e o capítulo 4 aponta a diminuição do papel do Estado e a abdicação do seu papel na luta contra as favelas como consequência dos ajustes econômicos capitaneados pelo FMI e Banco Mundial. O crescimento da influência dessas organizações nos rumos da urbanização mundial seria também consequência, segundo Davis, do programa habitacional de baixo custo defendido por John Turner nos anos 1970, o qual teria ido ao encontro da sua postura neoliberal e criado um paradigma “anarquista-liberal” que afastou os governos do Terceiro Mundo do fornecimento habitacional. O elogio da favela é então definido como uma “cortina de fumaça” que autorizou a revogação de compromissos estatais. Davis critica violentamente os programas de melhoria de favelas por aceita-las como realidades eternas, traduzirem a injustiça de 1/4 da população urbana viver em 5% dos terrenos e encobrirem as causas da desigualdade, além a ausência de macroestratégias para resolver o problema. Critica ainda a concessão de títulos de propriedade como submissão dos favelados aos impostos, enfraquecimento da solidariedade e da luta por mudanças estruturais e como promoção da divisão de classes dentro da favela. Davis conclui que a mercadorização da moradia e da terra urbana em metrópoles demograficamente dinâmicas, mas sem empregos, reproduziria os ciclos viciosos de superpopulação e aluguel que formaram os slumsda era vitoriana. O capítulo 5 focaliza as disputas de classe pelo espaço urbano e o papel do Estado na transformação da terra em mercadoria. Aponta o papel da segregação urbana na maximização do lucro particular por meio de intervenções de melhoria urbana, gentrificação, eventos internacionais, campanhas de embelezamento, erradicação do comércio informal e criminalização das favelas. Essa “haussmanização contemporânea” reivindica o centro urbano de volta para as classes superiores que, contudo, já estariam de “malas prontas” para partir para os condomínios fechados de subúrbios exclusivos. Estaria, assim, ocorrendo uma reorganização do espaço urbano metropolitano com diminuição drástica do contato entre ricos e pobres, distinta da segregação social e da fragmentação urbana tradicional. O capítulo 6 aborda a localização das favelas em áreas insalubres e de risco físico e seu papel na ampliação dos riscos geológicos e climáticos. Estas são apontadas também como as principais vítimas de desastres naturais e outros acidentes, e como promotoras da devastação de áreas verdes e da poluição de mananciais. No capítulo 7, aprofunda-se a crítica aos Planos de Ajuste Econômico do FMI e o último capítulo trata das atividades informais na cidade. Na América Latina, avalia-se que o setor envolve 57% da população economicamente ativa, com porcentagens crescentes nas pequenas e médias cidades. A visão do setor informal como protocapitalismo e trampolim para inserção da pobreza no mercado é criticada, mostrando-se sua heterogeneidade e divisão em “pequena burguesia” e “proletariado” informal, este último invisível e submetido a redes de exploração e abuso. No epílogo, Davis conclui que o capitalismo completou sua triagem da humanidade, definindo os que lhe servem e os que não servem para nada. Estes formariam uma “massa permanentemente supérflua” e sem esperança de inclusão. A favela surgiria então como única solução permitida para “armazenamento” dessa “humanidade excedente”. O livro apresenta dados sobre o Brasil e um ensaio fotográfico sobre as favelas do país. 
Data do Preeenchimento: 
terça-feira, 30 Setembro, 2014 - 09:45
Pesquisador Responsável: 

Marcia Sant’Anna

Data da revisão: 
sábado, 4 Outubro, 2014 - 09:00
Responsável pela Revisão: 

Daniel Juracy Mellado Paz

Observação: 
Referências recomendadas: 
TASCHNER, Suzana. Squatter Settlements and Slums in Brasil. In: ALDRICH, Brian; SANDHU, Ranvinder (orgs). Housing the Urban Poor. Policy and Practice in Developing Countries. Londres: Taschner, 1995. 
VERNA, Gita. Sluming India: A Chronicle of Slums and their Saviors. Nova Délhi: Penguin, 2002. 
Autor(es): 

Carlos Nelson Ferreira dos Santos

Onde encontrar: 

Biblioteca da Faculdade de Arquitetura da UFBA

Referência bibliográfica: 

SANTOS, Carlos Nelson Ferreira dos. Movimentos Urbanos no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.

Eixos de análise abordados: 
Conceitos e métodos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 
Carlos Nelson Ferreira dos Santos (1943-1989) foi arquiteto, antropólogo e urbanista. Carioca, graduou-se pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), realizou seu mestrado em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ e o doutorado em arquitetura e urbanismo pela Universidade de São Paulo. Foi pesquisador visitante do Massachusetts Institut of Technology (MIT), Chefe do Centro de Pesquisas do IBAM e professor do Departamento Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense. Muito atuante no campo do urbanismo no Rio de Janeiro, Carlos Nelson foi um dos pioneiros da ação em prol da urbanização de favelas. Escreveu diversos livros sobre este tema, sobre movimentos sociais urbanos, processo de urbanização e metropolização no Brasil. A obra fichada é vista por especialistas como uma das suas mais importantes e corresponde à publicação de sua pesquisa para a dissertação de mestrado que defendeu em 1979 junto ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu da Nacional da UFRJ, com o título de Três Movimentos Sociais Urbanos no Rio de Janeiro. A edição em foco é a primeira desta obra. 
Sumário obra: 
Introdução 
Brás de Pina 
Morro Azul 
Catumbi 
Conclusões 
Bibliografia 
Resumo : 
O autor dedica-se nesta obra a construir uma teoria sobre movimentos sociais urbanos com base na etnografia de três movimentos dessa natureza ocorridos no Rio de Janeiro, entre os anos 1960 e 1970, em consequência de programas de erradicação de favelas e de renovação urbana. Debate, ainda, e desconstrói, com base nessas experiências, o conceito apresentado por Manuel Castells, no livro Movimientos Sociales Urbanos (Madrid: Siglo Veintiuno Eds, 1974) e o “mito”, então corrente, da existência de “comunidades faveladas”. Aponta o caráter transitório e derivado de momentos de crise que fundamenta a ação coletiva dos favelados e sua integração, em nível individual e coletivo, à lógica capitalista que preside a produção do espaço urbano, inclusive no que toca à apropriação de seus símbolos arquitetônicos e urbanísticos de status, por ocasião da implementação de planos de reurbanização. Assim, o tema da arquitetura e do assentamento popular não são os focos principais dessa obra, embora informações interessantes a esse respeito surjam no bojo dos trabalhos de campo desenvolvimentos nas três localidades examinadas: a favela de Brás de Pina, próxima à Av. Brasil; a favela do Morro Azul, no Flamengo, e o bairro do Catumbi, próximo ao centro da cidade. Essas informações encontram-se principalmente nos capítulos relativos a Brás de Pina e Morro Azul e tratam da história dessas ocupações, sua formação inicial e desenvolvimento dos espaços dos “barracos” – que ainda predominavam nas favelas cariocas – e do surgimento de uma arquitetura popular em alvenaria no âmbito dos planos de urbanização implementados ou idealizados. Sobre Brás de Pina, o autor assinala o esforço dos moradores na construção do terreno do assentamento, a partir do aterramento progressivo de uma área pantanosa. Assinala que as melhores casas e os espaços com melhor infraestrutura localizavam-se nas áreas ocupadas a mais tempo, mas sem relação direta com a renda dos moradores. Composto basicamente de barracos de madeira, muitos dos quais sobre palafitas, o assentamento possuía algumas ruas retilíneas e largas como prolongamentos de outras do bairro vizinho, sendo as demais, becos tortuosos que, na maioria, constituíam vias sem saída. A experiência de Brás de Pina adquiriu notoriedade por ter sido a primeira a advogar e realizar um plano de reurbanização, em reação à então vigente política de remoção. Foi conduzida, apesar dos problemas e contradições surgidos, de modo a promover a participação dos moradores, admitindo-se “padrões não convencionais para os materiais e espaços de moradia”, o que permitiu que os habitantes desenhassem ou escolhessem o desenho de suas casas nos novos lotes delimitados. Contudo, não eram obrigados a construí-las por ocasião da transferência para os novos lotes,  mas apenas um banheiro ligado à rede de esgoto, podendo-se remontar os barracos no fundo, deixando-se a frente do lote livre para a nova construção. O autor aponta como traços principais das casas desenhadas ou escolhidas pelos moradores, a divisão em sala, cozinha, banheiro, área de serviço e dois quartos e a proposição de pequenas varandas e corredores – elementos, em geral, inexistentes nos barracos. Conclui que havia nas casas desenhadas pelos moradores uma tendência de “imitar” apartamentos cujas plantas são anunciadas nos jornais, incorporando-se também seus signos de status. O autor assinala ainda o surgimento, na implementação do plano de urbanização, de ações especulativas como a venda de “direitos” de permanência por parte de moradores que não tinham condições de construir, além da construção de espaços para aluguel. Com isso, ressalta a lógica capitalista de produção do espaço que também ocorre nesses casos, advogando que, ao invés de serem contidos ou ignorados, se busque aprender com eles. O assentamento de Morro Azul, por sua vez, é descrito como um “típico aglomerado irregular de moradia em encosta”, formado majoritariamente por barracos de madeira construídos em torno de becos íngremes. Embora numa escala muito menor do que em Brás de Pina, no Morro Azul a maioria dos moradores optou por construir suas casas segundo seus próprios desenhos, mas aí também não houve muita divergência entre estes e os resultantes de apoio técnico especializado. Devido à declividade do terreno, houve o aproveitamento do desnível para um porão ou cômodo de aluguel, mas o modelo de casa com sala, dois quartos, corredor, banheiro e cozinha foi o predominante. O autor classifica essas plantas como “racionalistas” e relacionadas às formas correntes de morar na cidade, o que também poderia ser dito sobre as casas de Brás de Pina. Estabelece uma comparação entre essas casas e os barracos existentes em Morro Azul, os quais tinham dimensões entre 4 e 35 m2 e divisões internas muito variadas, sendo o cômodo mais constante a cozinha. Nos casos em que existiam, os quartos eram mínimos e o corredor foi detectado em apenas um barraco. Os interiores desses barracos são descritos como atravancados, com móveis utilizados como divisórias, e circulação interna feita por cima deles ou a partir do recolhimento de camas e colchões durante o dia. Para o autor, a presença de sala e corredor constituiria um traço distintivo entre barraco e casa de alvenaria. No relato dessas experiências de urbanização, o autor questiona a prática do mutirão, observando que, sempre que possível, os moradores contrataram os serviços de construção, dedicando-se pessoalmente a ela apenas no fim de semana. O livro é ilustrado com desenhos e fotografias dos assentamentos comentados. 
Data do Preeenchimento: 
quinta-feira, 15 Maio, 2014 - 12:15
Pesquisador Responsável: 

Marcia Sant’Anna

Data da revisão: 
quarta-feira, 2 Julho, 2014 - 12:15
Responsável pela Revisão: 

Daniel Juracy Mellado Paz

Observação: 
Referências bibliográficas citadas e de interesse para o estudo da arquitetura e do assentamento popular:
 
MEDINA, Carlos Alberto. “A favela como uma estrutura atomística: elementos descritivos e construtivos”. In: América Latina, 12, n° 3, Rio de Janeiro, 1969.
SALMEN, Lawrence. “Housing alternatives for the carioca working class: a comparison between favelas and casas de cômodos”. In: América Latina. Rio de Janeiro, 1970.
SANTOSA, Carlos Nelson F. dos. “Some considerations about possibilities of squatter settlement development plans”. Cambridge, Massachusetts: MIT, documento xerox.
TURNER, John. «Habitação de baixa renda no Brasil: políticas atuais e oportunidades futuras”. In: Revista de Arquitetura. Rio de Janeiro, 1968.

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