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Simpósio sobre Arquitetura Popular no V ENANPARQ 2018
Simpósio sobre Arquitetura Popular no V ENANPARQ 2018
Igatu / Chapada Diamantina-Ba, 2016.
Espigueiros. Portugal, 2017.
Espigueiros. Portugal, 2017.

arquitetura rural

ISBN ou ISSN: 

Sem dados.

Autor(es): 

Giuseppe Pagano e Guarniero Daniel

Onde encontrar: 

Acervo Daniel J. Mellado Paz.

Referência bibliográfica: 

PAGANO, Giuseppe. DANIEL, Guarniero. Architettura Rurale Italiana. Quaderni dela Triennale. Milano: Ulrico Hoepli Editore, 1936.

Eixos de análise abordados: 
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Giuseppe Pagano (1896-1945) foi arquiteto e um dos protagonistas do Movimento Moderno na Itália. Graduou-se em Arquitetura no Politécnico de Turim em 1924 e teve carreira destacada no projeto de exposições, mobiliários e interiores, assim como foi fotógrafo amador. Em 1928, foi responsável pelo projeto geral da Exposição de Turim, assim como de cinco de seus pavilhões e, em 1930, com Gino Levi Montalcini, projetou o Pavilhão Italiano para a Exposição de Liège. Em 1937, realizou os interiores e muitos dos espaços de exposição do Pavilhão Italiano projetado por Marcello Piacentini para a Exposição de Paris de 1937. Participou da V Trienal de Milão em 1934 e foi o diretor da VI Trienal de Milão em 1936, para a qual projetou, com Guido Frette, a Exposição dos Materiais de Construção e, com Guarniero (Werner) Daniel, a Exposição de Arquitetura Rural, com fotos de sua autoria. Na VII Trienal de 1940, projetou a Exposição da Produção Serial. Importante foi sua atuação na revista Casabella, veículo fundamental para o debate arquitetônico e cultural da época, na qual atuou em 1931, trabalhando junto com Edoardo Persico, Giulio Carlo Argan, entre outros, e da qual se tornou diretor em 1933. Sobre Guarniero/Werner Daniel, não encontramos nenhuma outra informação além de que era arquiteto, com interesse nas casas rurais das províncias de Trento e Bérgamo (Giuseppe Pagano, ‘‘Documenti di architettura rurale,’’ Casabella 8, no. 95 (1935): 18–19.)
 
Fonte: https://it.wikipedia.org/wiki/Giuseppe_Pagano_(architetto)

 

Sumário obra: 

Não se aplica.

Resumo : 

Obra feita a partir de exposição sobre arquitetura rural italiana na VI Trienal de Milão, em 1936, fartamente ilustrada com fotografias. O estudo da casa rural italiana, a genuína tradição autóctone do país, busca demonstrar seus valores estéticos e sua funcionalidade e imunizar-se contra a retórica pomposa do que fora até então a história da arquitetura, que se concentrava no valor estético orientado à forma áulica adotada nas construções maiores – o templo, a igreja, o palácio – com ênfase no gênio como manifestação do gosto da época. A obra parte do pressuposto de que a arquitetura surge como resolução de uma necessidade técnica ou funcional, com a sobrevivência da forma resultante incorporada a novas funções. A arquitetura rural é a primeira vitória do homem no esforço de obter da terra seu próprio sustento, quase uma expressão do subconsciente. Honesta, sem falsificação estilística e rigorosamente cumprindo sua funcionalidade lógica, a casa rural adaptava-se em função do desenvolvimento geral da relação do homem com a terra; das condições geológicas, climáticas, agrícolas e econômicas do meio, como produto do espírito humano e uma coisa viva. Por isso, o fundamental seria o estudo de sua evolução. As mudanças foram graduais, adaptando elementos da fase anterior a partir de três fatores: material de construção, clima e economia agrícola. A tendência geral seria abolir o material leve de vedação em busca de materiais mais resistentes e duradouros, em paralelo com a mudança no modo de vida do pastor nômade ao agricultor sedentário. O resguardo do feno levou à criação do palheiro, cuja forma primitiva é a cilíndrica, com o feno em torno de um mastro e uma cúpula ou cobertura cônica para proteção contra a chuva. O uso do seu interior para abrigo deu origem à cabana de palha. A limitação inerente de tamanho devido à ausência de madeira de porte levou à soma de um outro círculo e à obtenção da planta elíptica. Seu desenvolvimento posterior gerou a planta retangular com telhado de quatro águas. Enquanto se usa a palha como cobertura, a declividade se mantém acentuada, como nos países nórdicos. A adaptação a um teto de duas águas é recente, com execução mais fácil, porém exigente em relação ao rigor da geometria e que requer a aparição da parede onde estão os frontões. Nessa evolução geral, da forma circular à quadrada, foi-se da célula única ao agregado de células, da planta composta à fusão em uma planta alongada. No sul do país, dada a escassez de madeira, a palha foi substituída diretamente para a cobertura em pedra, abandonando-se a estrutura em grelha e adotando-se a alvenaria. A cobertura cônica se rebaixou e se tornou cúpula, mantendo seu caráter celular. Outra transformação foi na maneira de manter o fogo doméstico: na cabana primitiva, a lareira era um buraco escavado com a fumaça saindo pelas frestas da cobertura. A inovação da chaminé permitiu o escoamento da fumaça, porém sua localização era ditada pelo clima: dos ventos frios, que investem contra certas partes da casa, e dos ventos, em geral, que podem levar as centelhas para a cobertura, exigindo que se destacasse como volume na construção geral. Da cabana de palha do pastor à cabana de pedra do lavrador, a forma permaneceu e se na primeira, o elemento principal era o mastro central, o seu abandono deixou a permanência da decoração no cume da cobertura, a exemplo das cruzes. O trullo, construção de alvenaria de pedra e cobertura em falsa cúpula no mesmo material, de célula única, é a primeira etapa de uma nova cadeia de transformações até a planta quadrada, ultrapassando-se os limites de tamanho das casas de palha, com o emprego de material aglomerante, como a pozolana, e o uso de tufo, pedra-pomes e tijolos. A cúpula se desenvolve em outras formas: como o pavilhão, a abóbada de berço, a abóbada de aresta e, por fim, o teto plano, cobertura típica dos países mediterrâneos e a máxima conquista técnica no edifício, mostrando que o teto plano da arquitetura moderna não era algo estranho à tradição italiana. O terraço possui a qualidade de recolher a água da chuva para alimentar cisternas, bem-vindo em áreas com poucas e intensas chuvas. Outro elemento que deu lugar a transformações significativas foi o pombal, que da planta circular passou à quadrada, tornando-se um novo elemento arquitetônico, empregado como local de depósito e de secagem e mesmo para fins estéticos. As fenestrações que serviam para aeração dos celeiros e sótãos se incorporaram como motivo decorativo. O cultivo de milho trouxe mudanças na arquitetura, com a necessidade de proteger as espigas das chuvas. As formas elementares dessa proteção são estruturas suspensas em madeira, ancoradas nas paredes, que acumulam o calor do dia e irradiam à noite, ajudando na secagem das espigas, origem do balcão de madeira. O aperfeiçoamento gradual em solidez e praticidade leva ao uso de pilares de alvenaria para, depois, adotar a estrutura mural que torna tal dispositivo uma loggia. O elemento em alvenaria capaz de desempenhar melhor esse serviço é o arco, empregado por razões práticas e não estilísticas. Fonte inesgotável de ensinamentos estéticos é a escada exterior, particular dos edifícios da Itália central e meridional, permitida pelo clima e necessária para separar o térreo, com o estábulo e depósitos, da planta superior da moradia. A escada é sentida como valor de composição volumetricamente puro, livre de toda sugestão retórica ou acadêmica. Na casa rural não há preocupação que não coincida com uma necessidade prática, funcional ou construtiva, cuja expressão plástica depende da forma do terreno, da orientação do sol, do material empregado e da necessidade interior: portas, janelas, escada e cobertura são determinadas por tais exigências. A fantasia arquitetônica é limitada aos elementos de composição, tendendo ao ritmo cadenciado com a repetição dos idênticos elementos estruturais, sendo uma arquitetura singela e anônima, na qual se faz visível a redescoberta da comoção do poeta construtor em vez do cenógrafo: teto plano, o bloco puro com o mínimo de adições e decorações acidentais, a composição assimétrica, a força expressiva da parede plena, a influência da paisagem circundante e a coerência funcional e técnica.

Data do Preeenchimento: 
terça-feira, 31 Agosto, 2021 - 16:00
Pesquisador Responsável: 

Daniel Juracy Mellado Paz

Data da revisão: 
domingo, 23 Março, 2025 - 16:00
Responsável pela Revisão: 

Marcia Sant’Anna

ISBN ou ISSN: 

Sem dados.

Autor(es): 

Luís Saia

Onde encontrar: 

Acervo Daniel J. Mellado Paz

Referência bibliográfica: 

Saia, Luís. Notas sobre a arquitetura rural paulista do segundo século. In: Saia, L. (1978). A Morada Paulista. 2ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1978, pp.61-117.

Eixos de análise abordados: 
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Luís Saia (1911-1975) nasceu em São Carlos, São Paulo, e formou-se na Escola Politécnica de São Paulo em 1948. Trabalhou no IPHAN e tem, entre suas obras principais, A Casa Bandeirista (uma interpretação), de 1955, e Morada Paulista, de 1971.

Sumário obra: 

Não se aplica.

Resumo : 

O texto apresenta um tipo de residência rural paulista, solução arquitetônica típica para fazendeiros mais abastados do séc. XVII, a partir de 12 exemplares estudados. O sítio escolhido para essas construções era à meia-altura da paisagem, buscando-se proteção do vento Sul, com a fachada principal a Norte ou Nordeste. O edifício assentava-se sobre um plano, e quando o terreno era inclinado, apelava-se a plataformas artificiais. A planta era um retângulo, esquema fechado que definia nesse tipo de construção sua característica arquitetônica, plástica e funcional. Havia sempre uma faixa fronteira formada pelo alpendre ladeado pela capela e quarto de hóspede. Esse elemento controlava o intercâmbio com o mundo, servindo de albergue para receber empregados e os demais recintos para visitas, resguardando-se a família e separando-a do trabalho. A função receptiva era denunciada pela maior riqueza e cuidado na capela e quarto de hóspedes, marcado pelos cabides e bancos fixos. A capela abria-se para o alpendre, recebendo ali o público enquanto a família assistia aos ofícios do interior da casa, separada por tabiques gradeados. O interior apresentava maior variedade, marcado pela vida austera, com escassos móveis. Seguia-se àquela faixa fronteira uma sala na parte central da planta com quartos de dormir perimetrais, mantendo-se as divisões das paredes presentes na faixa frontal. Ao fundo, havia também um alpendre ou pequenos compartimentos. Enquanto a sala era de telha vã, os quartos e cômodos perimetrais eram cobertos com forro, o que formava um sótão que era aproveitado como depósito. No quarto de hóspede e da capela os forros eram mais trabalhados. Não havia uma cozinha, sequer nos alpendres de serviço. Mantinha-se os costumes indígenas, dados os escravos nativos, muitos no serviço doméstico. O preparo dos alimentos se dava fora, em tripeças. Os alicerces da casa eram de taipa de pilão, com profundidade de 50 cm, e as paredes igualmente erguidas com essa técnica eram de 40 a 60 cm de espessura, com peças longitudinais internas de madeira para travar a construção. A longevidade dos vestígios testemunha a excelência do barro, ao qual, quando não era bom, juntava-se capim ou crina de animal. As paredes exteriores ganhavam revestimento com outro tipo de barro e os beirais do telhado eram amplos e contra a ação das chuvas. Os telhados de quatro águas não tinham tesouras, no máximo, travessas. Essas peças não eram lavradas e os maiores cuidados iam para as peças menores, geralmente de canela preta. Aproveitando-se das grossas paredes de taipa, armários embutidos eram providenciados nas salas e nos quartos. Se nas plataformas fronteiras das residências o piso era de pedra, no chão do alpendre, da sala, dos quartos e serviços, era de terra socada. Assoalho surgia apenas no quarto de hóspede e na capela, porém apodrecia rapidamente por ser assentado diretamente no solo. As paredes internas e externas ganhavam pintura branca, de cal ou tabatinga. Já as peças de madeira recebiam cores, enquanto a pintura decorativa estava reservada à capela, em especial aos forros. O autor ensaia ainda reflexões sobre o processo de ocupação do território e sobre o fim desse tipo arquitetônico com o ciclo do ouro nas Minas Gerais. Coteja ainda a sede de fazenda seiscentista do interior paulista com as fazendas do litoral, delineando suas características e ressaltando, assim, o contraste entre ambas.

Data do Preeenchimento: 
terça-feira, 9 Março, 2021 - 16:00
Pesquisador Responsável: 

Daniel Juracy Mellado Paz

Data da revisão: 
domingo, 23 Março, 2025 - 16:00
Responsável pela Revisão: 

Marcia Sant’Anna

Observação: 

Originalmente publicado na Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional n.8. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1944.

ISBN ou ISSN: 

1984-4506

Autor(es): 

Luís Saia

Referência bibliográfica: 

Saia, L. (2014). Origens da casa brasileira. Risco - Revista De Pesquisa Em Arquitetura E Urbanismo (Online), (18-19), 170-176. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4506.v0i18-19p170-176

Eixos de análise abordados: 
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Luís Saia (1911-1975) nasceu em São Carlos, São Paulo, e formou-se na Escola Politécnica de São Paulo em 1948. Trabalhou no IPHAN e tem, entre suas obras principais, A Casa Bandeirista (uma interpretação), de 1955, e Morada Paulista, de 1971.

Sumário obra: 

Não se aplica.

Resumo : 

Luís Saia apresenta nesse texto uma trajetória da casa brasileira com ilustrações extraídas da obra de Gilberto Freyre. Aponta que, nos primeiros séculos da colônia, a arquitetura brasileira seria sobretudo rural, desenvolvendo-se nesse meio com independência da metrópole. Os assentamentos litorâneos, por outro lado, tinham feição africana na moradia da escravaria, em casas humildes, de adobe e poucas partes de alvenaria, ao passo que as obras maiores eram de pedra trazida da Europa. Na arquitetura rural, houve a interpenetração da cultura e experiência dos portugueses, negros e indígenas na localização da casa-grande e da senzala e, principalmente, na estrutura das paredes de taipa de mão. Essa técnica espalhava-se por todo o Brasil nas casas-grandes e nas senzalas, nas vilas e é usada até hoje, quase que exclusivamente, nas casas dos caboclos. Mais ao Norte se manifestou a capacidade do indígena de usar os materiais à disposição na construção das choças dos seringueiros e dos mocambos. No Sul e no litoral vigorou a experiência portuguesa nas aglomerações semiurbanas, com necessidade de construções mais residentes. Sem uma tradição nativa anterior de moradias sólidas, empregaram-se os conhecimentos portugueses na sua estrutura plástica externa, com adaptações às condições mesológicas; no tratamento das peças; na orientação da planta, incorporando-se elementos da arquitetura oriental como os largos beirais, alpendres, pórticos, balcões, janelas rendadas, entre outros. A casa do trabalhador rural retrata a marcha tortuosa da escravidão na senzala, como moradia coletiva, para a liberdade relativa do caboclo em sua cabana, com sua família, sua criação, seu cavalo, assim descentralizando-se e espraiando-se pelo mato. Na formação do Brasil, duas figuras teriam sido importantes segundo Saia. O senhor de engenho, aglutinando os negros ao seu redor, e o padre, aproximando-se dos indígenas. Como a senzala em relação à casa-grande, o aldeamento dos indígenas agrupou-se em torno dos colégios, instalando-se nos altos. Embora nas suas linhas mantivesse a sobriedade da arquitetura clássica e de seus materiais, com paredes lisas, interrompidas pelas várias janelas, largos beirais e salas espaçosas, empregavam a mesma técnica da arquitetura rural, ou seja, a trama de galhos retos preenchida com a argila plástica. Esse padrão se repetiu quando o colono se interiorizou na penetração dos sertões, na expansão pastoril dos planaltos, na conquista das minas, dispersando-se a população mameluca e mestiça numa grande mobilidade pelo território, mas sem elaborar-se um estilo arquitetônico apurado nesse processo. Assim, o interior fixou os traços largos da habitação rural brasileira. Em contraparte, o mar engendrou a cidade, que cresceu de importância ao longo do tempo. No quarto século, cidades maiores, como Salvador, Recife e Rio de Janeiro, eram quase todas construídas pelo obreiro que vinha da metrópole, dando conta de necessidade de maior solidez, para funções de defesa. Fruto de um urbanismo instintivo, copiava, quando possível a experiência europeia. Mas ficou a marca do negro e do indígena na técnica de construção, na pequena habitação, no morro, tornando urbano o modelo da casa do caboclo, caracterizado pela sua forma de construção, disposição, cobertura, planta, resultando numa casa baixa, com largo beiral, janelas baixas e abertas. Houve, entretanto, um parêntese nas cidades de Minas, com o surgimento de soluções originais que faziam uma síntese do litoral com o interior.

Data do Preeenchimento: 
quarta-feira, 19 Agosto, 2020 - 16:00
Pesquisador Responsável: 

Daniel Juracy Mellado Paz

Data da revisão: 
domingo, 23 Março, 2025 - 16:00
Responsável pela Revisão: 

Marcia Sant’Anna

Observação: 

Publicada originalmente na Revista Panorama – Coletânea Mensal do Pensamento Novo. Ano I, São Paulo, Março de 1936, número 3.

Autor(es): 

Aline Vargas da Silveira.

Onde encontrar: 
Disponível em PDF na internet, conforme endereço constante na referência bibliográfica. 
Referência bibliográfica: 

SILVEIRA, Aline Vargas da. Os "casarões de Ibatiba": um patrimônio vernáculo a ser preservado. Programa de Pós-Graduação e Arte - Centro de Artes. Universidade Federal do Espírito Santo.

Eixos de análise abordados: 
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra: 
Aline Vargas da Silveira é arquiteta e urbanista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (2009). Possui Mestrado em Artes pela Universidade Federal do Espírito Santo (2012). Atualmente, é professora do Instituto Federal do Espírito Santo, atuando nos cursos Técnico em Edificações e Arquitetura e Urbanismo. O artigo em exame foi produzido a partir de dissertação de mestrado elaborada pela autora no Programa de Pós-Graduação em Arte/Centro de Artes, Universidade Federal do Espírito Santo, em 2012.
Informações obtidas em: http://lattes.cnpq.br/5188843873232282
Resumo : 
O propósito desta obra de Aline da Silveira é o estudo da arquitetura rural do município de Ibatiba, localizado no sul do estado do Espírito Santo, na região do Caparaó. O objeto de análise são os casarões do fim do século XIX e meados do século XX que foram construídos à medida que a lavoura cafeeira ia se desenvolvendo, passando, assim, a fazer parte da paisagem rural da região. Este objeto está ligado diretamente à cultura regional e ao modo de vida da época, sendo isso de extrema importância para a compreensão do tipo de arquitetura que representam. Os casarões são produtos de uma tradição construtiva que remonta a muitas gerações, desde o período colonial, principalmente no que diz respeito aos materiais utilizados e encontrados no local. Nesse contexto, a autora analisa possíveis alterações que ocorreram ao longo do tempo e revela que as técnicas construtivas dominantes eram artesanais, com uso de estrutura de madeira e vedações de pau-a-pique e/ou tijolo cerâmico. O conjunto arquitetônico da fazenda era formado pela casa, terreiro, tulhas e paióis, moinhos, monjolos, engenhos de cana-de-açúcar e abrigo de animais. Porém, boa parte desses componentes não existe mais, havendo apenas vestígios de sua localização. Alguns podem ser identificados por meio de relatos de moradores. A autora acredita que a valorização e a preservação desses exemplares históricos é de extrema importância para o resgate das memórias do lugar, e que pode ser uma boa maneira de promover o desenvolvimento da região. 
Data do Preeenchimento: 
quinta-feira, 7 Março, 2013 - 12:15
Pesquisador Responsável: 

Estudante Bolsista: Samantha Rocha

Data da revisão: 
segunda-feira, 18 Março, 2013 - 12:00
Responsável pela Revisão: 

Marcia Sant’Anna

Autor(es): 

Nathália Maria Montenegro Diniz

Onde encontrar: 

Arquivo em PDF disponível na internet.

Referência bibliográfica: 

DINIZ, Nathália Maria Montenegro. Velhas fazendas da Ribeira do Seridó. 2008. 205 p.: II. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, São Paulo, 2008.

Eixos de análise abordados: 
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra: 
Nathália Maria Montenegro Diniz possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2004), mestrado e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (2008/2013). Atua principalmente nos seguintes temas: patrimônio histórico e história da arquitetura. 
Informações obtidas em: http://lattes.cnpq.br/8252081053919959
Sumário obra: 
INTRODUÇÃO - 08 
CAPÍTULO 1. TRAJETÓRIA DO DISCURSO SOBRE A PRESERVAÇÃO DA ARQUITETURA RURAL - 13 
CAPÍTULO 2. FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO DO RIO GRANDE DO NORTE - 35 
CAPÍTULO 3. FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA DO GADO - 67
CAPÍTULO 4. ARQUITETURA DO GADO DO SERIDÓ - 91 
CAPÍTULO 5. CASO PARTICULAR – APONTAMENTOS GENEALÓGICOS DA FAMILIA GORGONIO PAES DE BULHÕES - 170 
CONSIDERAÇÕES FINAIS - 190 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - 193 
ANEXOS - 199
Resumo : 
A obra em exame trata da preservação e divulgação da arquitetura rural na região do Seridó, localizada no semiárido do Rio Grande do Norte. Os três primeiros capítulos possuem caráter introdutório, nos quais a autora se propõe a contextualizar os exemplares arquitetônicos pesquisados. O primeiro capítulo trata das teorias da restauração, preservação e conservação do patrimônio arquitetônico rural, da atuação do IPHAN e dos órgãos estaduais no que toca à sua preservação e das pesquisas acadêmicas relacionadas a esse tema. No capitulo seguinte, a autora aborda a formação do estado do Rio Grande do Norte, especificamente a região do Seridó, explicando o surgimento das fazendas de gado e de algodão da região. No capitulo 3, discute a inserção da atividade pecuária no Nordeste brasileiro, assim como a localização das centenas de fazendas e currais implantados. Ainda neste capítulo, estuda-se o comportamento dos fazendeiros e suas famílias. O capítulo 4 analisa as particularidades da arquitetura da região do Seridó, visto que, embora haja um conhecimento prévio desse patrimônio, não haveria uma noção do número de seus exemplares, nem do grau de deterioração e de mudanças ocorridas. Dentre as diversas fazendas registradas, apenas as que supostamente seriam do século XIX foram apresentadas, totalizando 62 exemplares. Por fim, no capítulo 5, são apresentados os registros das fazendas pertencentes à família Gorgônio Paes de Bulhões, sobre as quais foi possível obter dados históricos e genealógicos. Com base nesses dados, a autora reconstitui como teria sido a vida numa fazenda no Seridó, no século XIX. Esta pesquisa auxiliou a dirimir dúvidas referentes às demais fazendas pesquisadas e aprofundar questões tratadas nos capítulos anteriores. 
Data do Preeenchimento: 
quinta-feira, 28 Fevereiro, 2013 - 12:30
Pesquisador Responsável: 

Estudante bolsista: Samantha Rocha

Data da revisão: 
quarta-feira, 13 Março, 2013 - 12:30
Responsável pela Revisão: 

Marcia Sant’Anna

ISBN ou ISSN: 

978-85-906837-3-5

Autor(es): 

Olavo Pereira da Silva Filho

Onde encontrar: 

Biblioteca da Faculdade de Arquitetura da UFBA

Referência bibliográfica: 

SILVA FILHO, Olavo Pereira da. Carnaúba, pedra e barro na Capitania de São José do Piauhy. Belo Horizonte: Ed. do Autor, 2007. 3v.

Eixos de análise abordados: 
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Construção autogerida em meio urbano: espaços e técnicas
Dados sobre o autor(es) e obra: 
Olavo Pereira da Silva Filho possui graduação em Arquitetura (1972), especialização em Urbanismo (1975) e em Restauração e Conservação de Sítios e Monumentos Históricos (1979), todos pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais. Foi vencedor da 21ª edição (2008) do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) na categoria Pesquisa e Inventário de Acervos com o livro “Carnaúba, pedra e barro na Capitania de São José do Piauhy”. Atualmente é responsável técnico na empresa OP ARQUITETURA LTDA. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Planejamento e Preservação de Sítios Históricos. 
Informações obtidas em: http://lattes.cnpq.br/4841845175971710
Sumário obra: 
Volume I – Estabelecimentos Rurais 
  • Apresentação 
  • Introdução 
  • O plano rural 
  • Primeiros currais 
  • Casas de vaqueiros e roceiros 
  • Casas de fazendas 
  • Campos santos 
  • Notas 
Volume II – Arquitetura Urbana
  •  Arquitetura urbana 
  • Casas de residência e comércio 
  • Prédios de função pública 
  • Edificações religiosas 
  • Notas 
Volume III – Urbanismo 
  • Vilas da Colônia, cidades do Império 
  • Cronologia da evolução urbana 
  • Ruptura e perda 
  • Notas 
  • Bibliografia 
  • Glossário 
Resumo : 

Motivado pela falta de referências sobre o quase desconhecido acervo arquitetônico e urbanístico do Piauí, o autor promove um trabalho de levantamento de vários sítios históricos do estado, com atenção especial para os elementos construtivos mais largamente utilizados: carnaúba, pedra e barro. Dividida em três volumes (Estabelecimentos Rurais, Arquitetura Urbana e Urbanismo), a obra procura compreender a organização espacial e os sistemas construtivos, associando a pesquisa arquitetônica aos aspectos sociais, econômicos e culturais que permearam a origem e a evolução tanto dos estabelecimentos rurais, quanto das áreas urbanas piauienses, nos séculos XVIII, XIX e XX, além de abordar as condições de preservação desse acervo. No volume I, chama atenção para as primeiras povoações da região, que formaram uma sociedade rural onde as construções remetiam à retórica persuasiva do barroco, porém sem a rigidez do classicismo formalista e dogmático, dando espaço para significativos efeitos populares. Faz uma descrição do universo rural desta área da colônia, associando-o aos aspectos econômicos da região, baseados principalmente na pecuária, da qual se obtinha o couro para a produção dos mais variados objetos. Apesar dos poucos dados sobre a arquitetura produzida nessas terras durante o período da colonização, o autor afirma que se tratava de habitações feitas com técnica construtiva das mais precárias, levantadas quase sempre pelo trabalho escravo. Nesses primeiros currais, “as moradias não passavam então de arcabouços toscos e provisórios”. Ao tratar das casas de vaqueiros e roceiros, surge uma maior ênfase na arquitetura popular, visto que os próprios moradores constroem suas casas, utilizando carnaúba, pedra e barro. Tal situação ainda hoje referencia territórios do agreste. Em seguida, Silva Filho analisa as casas de fazendas, as quais já possuem esquemas de implantação e setorização que, apesar de não haver opulência nem sistemas inovadores, apresentam-se com melhor noção de harmonia e equilíbrio. Com um levantamento de várias fazendas espalhadas por todo o Piauí, o autor distingue tipologias para as casas, descreve seus espaços e discorre sobre as técnicas construtivas utilizadas. No volume II, dedicado à arquitetura urbana, o autor informa que as construções citadinas do Piauí não se distanciavam por completo dos léxicos renascentistas, sobretudo os edifícios religiosos e públicos construídos nas áreas das praças centralizadas. A acomodação das composições traduz a coerência do contexto social a que servia. Trata-se de uma arquitetura objetiva e transparente, despojada de aparato ornamental, com formas simples e sintéticas limitadas à base portuguesa e simetria apegada à caixa estrutural. Propagou-se, em linguagem característica por todo o estado, uma expressão vernacular oriunda de uma reconfiguração do engenho lusitano da costa leste reconfigurada através dos recursos materiais e cognações espirituais do agreste. “Não se sabe de projetistas”, os arquitetos foram seus proprietários e mestres de obras, embasados em programas típicos do litoral e do interior baiano. A falta de arquitetos e engenheiros fez dos mestres de obras os verdadeiros projetistas da Capitania e mesmo da Província. Eram comuns prédios com formas semelhantes servirem a funções diferenciadas, confundindo-se fachadas de cadeias, intendências e escolas, por exemplo, e, às vezes, até as casas de moradia, em algumas situações, também repetiam o esquema de plantas de prédios públicos. Já no final do século XIX, momento de transição dos costumes e das formas de produção, os centros urbanos assimilaram novos padrões. O intercâmbio comercial proporcionou a reprodução do ecletismo no começo do século XX, estilo que já estava disseminado por todo o Brasil. Novas soluções arquitetônicas e urbanísticas passaram então a ser praticadas nas cidades piauienses. Silva Filho descreve amplamente as casas de residência e de comércio, destacando programas, implantação, setorização, técnica construtiva, mobiliário e utensílios domésticos. Levantamentos de construções em várias cidades do estado enriquecem seu relato. O volume II examina ainda os prédios históricos de função pública (instalações militares, casas de câmara, cadeias, intendências e repartições, mercados, edifícios de recreação, estabelecimentos de ensino, estações ferroviárias e equipamentos urbanos), além de edificações religiosas, com exemplares de diversos núcleos urbanos do Piauí. Por fim, o volume III analisa o fenômeno da urbanização em solo piauiense,iniciado a partir da segunda metade do século XVII. De acordo com o autor, esse não foi diferente de outras tantas regiões interioranas, onde os caminhos do gado fizeram surgir nucleações lineares, estruturando espaços com funções sociais, econômicas e religiosas. Silva Filho chama atenção para as Cartas Régias, em especial a de 1761, que estabeleceu a criação de vilas nas povoações paroquiais e instaurou a primeira cidade piauiense ao elevar a tal categoria a vila da Mocha, primeiro centro urbano local. Estes documentos foram determinantes para o urbanismo da região já que ordenavam o processo de urbanização, com o objetivo de deixar as cidades com características portuguesas, como se vê, por exemplo, em seus traçados ortogonais. A maior parte das nucleações urbanas eram vilas durante o período colonial. Somente no Império, muitas foram elevadas à categoria de cidades. Em “Aspectos urbanos”, o autor analisa o processo de urbanização de várias cidades do estado e, considerando tudo o que foi exposto até então, discute os processos de “ruptura e perda” e reflete sobre as condições de preservação do acervo histórico de arquitetura e urbanismo do Piauí. A obra possui vasta documentação iconográfica, mapas, desenhos e ilustrações, elaboradas pelo próprio autor ou resultantes de suas pesquisas arquivísticas, que acompanham as informações contidas nos três volumes. Além disso, com a intenção de proporcionar melhor interpretação e clareza, Silva Filho acrescentou um glossário dos termos técnicos e expressões vernaculares que aparecem ao longo do texto e que necessitam explicações.

Data do Preeenchimento: 
sexta-feira, 30 Maio, 2014 - 12:30
Pesquisador Responsável: 

Pedro Henrique Brito

Data da revisão: 
domingo, 31 Agosto, 2014 - 12:00
Responsável pela Revisão: 

Luiz Antonio Fernandes Cardoso

ISBN ou ISSN: 

Não consta ISBN - Código: CL20-1770-9.

Autor(es): 

Enrico Guidoni

Onde encontrar: 

Acervo do Prof. Luiz Antonio Fernandes Cardoso

Referência bibliográfica: 

GUIDONI, Enrico. L’architettura popolare italiana. Roma: Editori Laterza, 1980.

Eixos de análise abordados: 
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra: 
Enrico Guidoni (1939-2007) foi professor de História da Urbanística na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma "La Sapienza” e também docente de História da Arte junto à Escola de Especialização em Restauro de Monumenti e, a partir de 1997, de História da Arquitetura Moderna. Foi membro da Comissão Internacional de História das Cidades e fundou as seguintes revistas Storia della città, Storia dell'urbanistica, Studi giorgioneschi e publicou Atlante di storia urbanistica siciliana, Roma. Storia, immagine, progetto, Atlante storico delle città italiane, Civitates, e o livro objeto desta ficha L'architettura popolare in Italia, lançado em 1980.
Em 1991 promoveu, com E. De Minicis, a iniciativa cultural Museo della città e del territorio. Foi curador, para a Comuna de Modena (Biblioteca Poletti), dos ciclos de conferências intitulados Percorsi di storia della città, entre 1995 e 1998. 
Informações obtidas em: (www.cittasostenible.it). 
Sumário obra: 
1. La dimensione storico-antropologica 
2. Il sacro e i riti 
3. Il paesaggio, l’insediamento, l’urbanistica 
4. Il microambiente e l’arredo 
Bibliografia
Resumo : 
A obra reúne as pesquisas do autor sobre a arquitetura e os assentamentos urbanos italianos onde reconhece uma contribuição popular fundamental. Contém revisão bibliográfica e documental extremamente completa sobre o que foi produzido sobre o tema no país até 1980, contendo ainda abundante material fotográfico e gráfico. Arquitetura e “urbanismo” popular são tratados como produtos de uma relação profunda com cultura campesina, abordando-se o ambiente construído como resultado global do trabalho secular de comunidades dotadas de cultura própria. O autor investiga a arquitetura popular a partir dos aportes culturais específicos de povos e comunidades, entendendo o assentamento humano não como resultado de processos mais ou menos passivos de adaptação ao ambiente ou a modelos externos dominantes, mas como um produto cultural vinculado à história da comunidade residente. Define então “arquitetura popular” como “o conjunto das manifestações – referentes a grupos e comunidades organizadas (principalmente rurais ou artesanais) que desenvolvem atividades produtivas em condições de relativa autonomia cultural com relação à sociedade urbana e aos órgãos do Estado – inerentes à construção, à transformação e ao uso do espaço habitado, à interpretação abrangente do mundo físico local e da paisagem, ao usufruto do território e à sua reapropriação ritual” (p. 3-4). Para Guidoni, uma “cultura arquitetônica popular” somente sobrevive se condições de relativa autonomia cultural, econômica e de gestão permanecem. Para ele, a arquitetura popular e suas tradições não sobrevivem em contato estreito com o mundo industrial e urbano e com as políticas governamentais de habitação e urbanismo. Nessas situações, o legado popular permaneceria apenas nos detalhes, no uso particular do espaço interno e em elementos assessórios e extra-arquitetônicos. Metodologicamente, Guidoni advoga que a arquitetura popular deve ter suas características, componentes e variantes analisados com base em dados históricos e antropológicos. Ou seja, deve ser posta em relação com o “povo” que a produziu, tendo-se em conta estratificações temporais, condicionantes físicos e geográficos, trocas e encontros com a cultura urbana e estatal. Estatutos urbanos e normas consuetudinárias seriam fontes importantes da história das comunidades campesinas, do assentamento e do território, ressaltando-se o papel dos fotógrafos e etnógrafos no registro dessa arquitetura em seus nexos com vida cotidiana e tradições locais. Guidoni destaca o papel da noção de sagrado no estudo do “espaço popular” entendido como todo o ambiente produtivo, da casa ao território da comunidade. Ressalta a profundidade temporal desse aspecto, que remete à pré-história e ao mundo pré-cristão, e sua relação com o ambiente natural geológico e fito-zoológico. A relação com o sagrado surgiria nos signos religiosos apostos às fachadas, portas e janelas e na sacralização e individuação dos lugares por meio da presença de rochas e árvores sagradas ou da edificação de cruzes, edículas ou nichos que potencializam a relação entre este mundo e o divino. Estes elementos tornam-se pontos determinantes da paisagem, utilizados para a proteção do território. Guidoni assinala que esses construtos ganham significados reais somente sob uma chave antropológica ou no interior de um uso ritual radicado na tradição local. Por isso, a arquitetura popular não poderia ser compreendida fora da rede de crenças, tradições e de uso do espaço que transcende a mera esfera construtiva. Os ritos e festividades seriam também formas de apropriação e delimitação de territórios, de unificação do assentamento humano com seu contexto produtivo, de demonstração da persistência de lugares de culto e de resistência às modas e inovações. Seriam ainda expressões de uma interpretação popular da estrutura urbanística, permitindo compreender escolhas fundamentais como a posição da igreja, da capela, da cruz, dos altares provisórios e dos aparatos usados nas procissões. Guidoni explora a apropriação popular das relações entre natureza, religião, arquitetura sacra e paisagem nos assentamentos e santuários localizados em sítios excepcionais que exprimem a identificação primária entre o sagrado e as rochas. Defende também a existência de um “urbanismo popular”, identificando na configuração de núcleos urbanos pequenos e médios a ação criadora da comunidade residente. Na Itália, a assimilação pela cidade do tipo arcaico de morada camponesa data do final da Idade Média, quando a arquitetura dos núcleos urbanos deveu muito ao aporte camponês e às relações econômicas fundamentais com o campo. A dimensão popular do urbanismo se revelaria na construção culturalmente reconhecível do espaço habitado na sua relação com a preexistência histórica e na organização da vida comunitária. Seria produto de escolhas, estratificações culturais e modificações históricas concretizadas nos sistemas viários irregulares, nas volumetrias assimétricas e nos agregados habitacionais aparentemente caóticos. Sua falta de precisão e a não repetição de módulos e esquemas geométricos seriam próprios de uma produção artesanal que tem como objetivo a funcionalidade e a resposta a necessidades produtivas, sociais e ideológicas. Essas características seriam ainda decorrência de distorções, reinterpretações e simplificações de esquemas urbanísticos cultos e de um modelo associativo enraizado na família e na atividade produtiva do grupo. Uma expressão desse “modelo” seria a unidade urbanística correspondente ao beco e ao pátio com várias unidades habitacionais. Guidoni destaca a casa como um indicador do conjunto das relações comunitárias, por meio do seu aspecto exterior e da adaptabilidade ao espaço disponível, e como o elemento que mais mantém uma individualidade e mais tende a conservar tradições rurais e populares. Elementos como lareiras, chaminés, fornos e escadas expressariam essa tendência. Já o interior da casa popular é visto como pouco estudado em termos de cultura do espaço habitado, modelos de seleção e agregação de objetos e da relação com a estrutura edilícia. Nesses agenciamentos internos, que se caracterizam por um horror vacui, revalecem objetos e instrumentos de trabalho sobre a mobília, a qual é tratada como entidade isolada e relativamente independente do ambiente arquitetônico. As partes mais importantes (ambiente do leito, cozinha e canto das imagens sacras) são, entretanto, dotadas de rigorosa estruturação espacial. 
Data do Preeenchimento: 
sexta-feira, 14 Junho, 2013 - 13:15
Pesquisador Responsável: 

Marcia Sant’Anna

Data da revisão: 
terça-feira, 1 Julho, 2014 - 13:15
Responsável pela Revisão: 

Daniel Juracy Mellado Paz

Observação: 

Não há tradução desta obra para o português.

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