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Simpósio sobre Arquitetura Popular no V ENANPARQ 2018
Simpósio sobre Arquitetura Popular no V ENANPARQ 2018
Igatu / Chapada Diamantina-Ba, 2016.
Espigueiros. Portugal, 2017.
Espigueiros. Portugal, 2017.

Espigueiro

ISBN ou ISSN: 

978-972-9136-67-2

Autor(es): 

Fernando Manuel Cerqueira Barros

Onde encontrar: 

Acervo Daniel J. Mellado Paz.

Referência bibliográfica: 

BARROS, Fernando Manuel Cerqueira. Construção do Território e Arquitectura na Serra da Peneda – PADRÃO (Sistelo) e suas “brandas” – um caso de estudo. Arcos de Valdevez: Município de Arcos de Valdevez, 2013.

Eixos de análise abordados: 
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Fernando Manuel Cerqueira Barros nasceu em 1986. Formou-se em Arquitetura na Universidade do Porto (2008), com Mestrado em 2011. Pesquisador no CEAU – Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo. É membro fundador da Red Horrea - Red Internacional de Graneros Elevados Tradicionales, além de membro do Conselho Pedagógico da FAUP – Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto e da Comissão de Co-Gestão do Parque Nacional de Peneda-Gerês (Portugal). Trabalha com requalificação do patrimônio construído, com ênfase na arquitetura tradicional rural. Informações obtidas em: https://orcid.org/0000-0002-7373-3286. E em: https://ceau.arq.up.pt/pt/about/researchers/fernando-manuel-cerqueira-ba...

Sumário obra: 

Prefácio
I – Introdução
II – Serra da Peneda
         1 – Enquadramento
         2 – Da Construção do Território: Lugares Fixos e “Brandas” como elementos de apropriação da Serra
         3 – As últimas décadas: ruptura do sistema tradicional
III – Padrão (Sistelo) e a suas “Brandas” – um caso de estudo
         1 – Enquadramento Geral
         2 – Aldeia de Pedrão
         3 – “Branda” do Alhgal e “Branda” da Gêmea
IV – Considerações Finais
Termos e Definições
Bibliografia
Anexos

 

Resumo : 

A obra, baseada na dissertação de mestrado do autor, é farta em mapas e fotos e visa entender a constituição do território da Serra da Peneda, investigando a ocupação e a arquitetura correspondente do norte do Portugal e regiões vizinhas da Espanha, seguido de um “estudo alargado” sobre a Serra da Peneda, para depois deter-se em Padrão, na freguesia do Sistelo, no município de Arcos de Valdevez.
A Serra da Peneda é uma das principais do Minho, região com relevo acidentado e com topos aplainados nas serras, separados pelos vales de rios que compõem uma densa rede hidrográfica. O clima é de invernos ventosos e riscos de geada o ano inteiro, o que explica o vazio humano no maciço central. A alta pluviosidade favorece o crescimento da erva que, junto com a altitude e declividade, faz com que grandes extensões sejam utilizáveis apenas para pastagem. A vegetação atual da Serra da Peneda é composta por urzais e giestais, sucedendo os antigos bosques que foram extintos pela ação dos lenhadores, carvoeiros, agricultores e pastores entre 800 e 1000 d.C.
O autor descreve as sucessivas ocupações no Minho desde a civilização neolítica, passando pela civilização castreja, pela romanização e invasões bárbaras, mas pouco se ocupou a Serra da Peneda. A situação modifica-se com as repetidas invasões e investida dos vikings pelos rios navegáveis em meados do séc. IX, com a fuga da população para o interior e serranias. Dessa época data a exploração e o povoamento da Serra, com substituição da cobertura vegetal e predomínio do pastoreio e do cultivo do milho miúdo, centeio, linho, nabos, ervilhas, couves e fruteiras. A malha de povoados da Serra data do séc. XIII.
A introdução da cultura do milho maiz, de origem americana, acarretou mudanças profundas. Antes, a cultura cerealífera era de sequeiro e de grãos pouco compensadores: milho miúdo, centeio, trigo. O milho maiz trouxe súbito aumento da produção, o que propiciou a expansão da população, exigindo locais próprios de armazenamento e fazendo surgir os espigueiros – dispositivos construídos para armazenamento de grãos. Sobretudo, mudou o perfil do cultivo, agora de irrigação, com a transformação dos terrenos inclinados em socalcos, modificando radicalmente a paisagem e fracionando o terreno, não mais livre para o pastoreio. O grão foi plantado no sopé da Serra por não suportar o frio das montanhas, colonizadas antes pelas culturas anteriores de trigo e centeio, ocupando agora o espaço dos antigos pastos de verão.
A organização do território a partir daí se compunha de aldeias em regime autárquico, com habitação permanente em meia-encosta e campos de socalco de milho ao redor. Os espaços de serra e montanha eram destinados à agricultura e pastoreio estivais. Em alguns casos, o vale se resguardava para várzeas de cultivo. Essa forma de ocupação, que vigorava no noroeste da Península Ibérica, é caracterizada pela transumância vertical e presença das brandas, um tipo de construção, cuja primeira menção data do final do séc. VIII. Estas podiam ser: de cultivo, geralmente batata e centeio; de gado, geralmente vacum e, às vezes, atividade conjugada, com maior papel habitacional. Em comum, são construções de caráter arcaico, com planta circular e falsa cúpula, técnica que consiste no uso de lajes de granito dispostas na horizontal de forma cruzada até fechar a cobertura. As ombreiras e vergas da porta e o fecho no topo são com padras maiores. Nas brandas de gado também existem os bezerreiros, muros de pedra para proteção noturna dos bezerros. As brandas de cultivo apresentavam dupla função: abrigo para o gado e para o lavrador. As brandas com maior permanência tinham características diferentes: eram uma segunda residência, com maior tamanho e cuidados construtivos, com dois pisos e telhado de duas águas na maioria dos casos. Existem outras construções na Serra, como as alminhas, símbolos da fé e, junto com os montículos de pedra chamados castelinhos, constituem sinalização para dias de nevoeiro. Há ainda os fojos, para montaria dos lobos - batidas para caça ao predador – com armadilha em vertente de forte declive, composta por paredes que se afunilavam até um poço coberto por mato, com porta abaixo, onde os lobos caíam e eram mortos. Outra armadilha era o fojo da cabrita. E as silhas, um equivalente para a caça aos ursos.
As aldeias são igualmente características. Com povoados pequenos de até 100 almas e não muito distantes entre si. As casas não se dispersam, já que os lavradores não moram junto à gleba que cultiva e sim na aldeia. As poucas casas se aglutinam e sempre emparedam o caminho, formando ruas. Implantam-se nos terrenos mais rochosos onde têm seus alicerces e mesmo paredes, pois são de pior aptidão agrícola, liberando-se, assim, os terrenos bons para cultivo. O autor estuda ainda a casa tradicional de granito, com junta seca e telhado cerâmico, que usualmente possui dois pisos e conexão por escada exterior através da varanda, espaço fundamental que, ademais, constitui transição entre o interior e exterior e prolongamento da cozinha, bem como local de sequeiro. O autor menciona ainda os espigueiros, local de armazenagem do milho, feitos em granito e suspensos para proteção contra os roedores e umidade, sendo expostos ao sol e aos ventos dominantes.
O sistema econômico que sustentava as brandas foi dissolvido ao longo do séc. XX. Entre causas diversas, como o abandono das práticas agrícolas, a abertura de novas vias e meios de comunicação, a criação do Parque Nacional Peneda-Gerês nos anos 70 e a chegada do turismo rural e das segundas residências. Importante, entretanto, foi a intervenção estatal nos baldios, áreas de uso comunal para pasto de rebanhos, com coleta de lenha, plantio de cereais e produção de carvão, os baldios foram alvo, em meados do séc. XX, de reflorestamento por parte do governo, com a proibição de sua invasão. Com a perda de tais áreas, houve o decréscimo do gado caprino e ovino e aumentou a emigração, com abandono do território e conseqüente desertificação. A emigração no séc. XIX e começo do séc. XX tinha como contraparte o retorno daqueles emigrados bem-sucedidos, ostentando os sinais do êxito em outras terras. Nisso, modificavam as antigas casas, com adição de pavimentos, mudança do revestimento, fechamento da varanda. Realizavam também novas construções, agora à margem da estrada, fora do núcleo da aldeia, ocupando boas terras e com outros tipos e materiais, que proliferaram-se clandestinamente com a formação de novos bairros.

Data do Preeenchimento: 
quinta-feira, 19 Setembro, 2013 - 16:00
Pesquisador Responsável: 

Daniel Juracy Mellado Paz

Data da revisão: 
quinta-feira, 20 Março, 2025 - 16:00
Responsável pela Revisão: 

Marcia Sant’Anna

ISBN ou ISSN: 

972-96547-0-0

Autor(es): 

Armando Reis Moura

Onde encontrar: 

Acervo Prof. Daniel J. Mellado Paz.

Referência bibliográfica: 

MOURA, Armando Reis. Espigueiros de Portugal. Parque Natural da Ria Formosa/Instituto da Conservação da Natureza, 1993.

Eixos de análise abordados: 
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Dados sobre o autor(es) e obra: 
Armando Reis Moura (1931-), português, formado em Ciências Pedagógicas, Ciências Geológicas e Ciências Biológicas, é geólogo e biólogo, além de investigador do patrimônio marítimo. Foi diretor do Departamento de Ciências Biológicas do Instituto de Investigação Científica de Moçambique, e foi professor da Universidade de Aveiro, no Departamento de Biologia. Possui várias obras publicadas sobre fósseis e animais marinhos, e algumas sobre arqueologia naval, embarcações tradicionais e espigueiros. 
Informações obtidas na própria obra. 
Sumário obra: 

Espigueiros

I. Apresentação

II. Prefácio

III. Diretoria

IV. Introdução

V. Panorama bibliográfico

VI. O milho

VII. Definições

VIII. Origens

IX. Evolução dos Espigueiros

X. Estrutura dos Espigueiros

XI. Tipologia dos Espigueiros

XII. Distribuição geográfica dos Espigueiros

XIII. Que futuro?

XIV. Glossário dos Espigueiros

XV. Iconografia

XVI. Bibliografia

XVII. Índice Geográfico do Noroeste de Portugal

XVIII. Índice Iconográfico

XIX. Índice Geral

O Autor

  1. Dados Biográficos

  2. Lista dos Trabalhos

  1. Lista dos Trabalhos

Resumo : 
Livro farto em fotos, com glossário minucioso, farta bibliografia e mapa com distribuição dos tipos gerais. Realiza também um panorama bibliográfico, com destaque para autores como Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano. Como tipo geral, o espigueiro é uma construção para armazenamento de grãos que se distribui do Mar Negro à Península Ibérica, em cujo noroeste existe em maior quantidade e diversidade. Sua distribuição apresenta estreita coincidência com a linha de 1000 mm de precipitação anual, que vai de Portugal às Astúrias. Em Portugal, encontram-se nas terras altas do Minho e Douro Litoral, na parte ocidental de Trás-os-Montes e nas Beiras setentrionais e ocidentais. O espigueiro está vinculado à cultura dos cereais – em particular, a do milho – e ao complexo rural, junto com a eira e a sequeira ou alpendre. O ponto de parte é a chegada do milho grosso ou “maiz” em Portugal, entre 1515 e 1525, já presente nos campos do Mondego e, em 1531, em Lamego, no que Orlando Ribeiro chama de “revolução do milho”. O milho maiz substituiu o milho miúdo no Minho, Douro e Beiras, dada a sua maior produtividade e ao uso de sua palha como forragem. Tal mudança implicou em mudanças na quantidade, forma e tipo dos espigueiros. Em Portugal, as propriedades se constituíam de pequenas parcelas, com uso intensivo e regadio, com uma população numerosa e dispersa em aldeias autossuficientes. As casas possuíam anexos ligados à produção de grãos - eira, alpendre, ou sequeiro, e o espigueiro – com a função de secar e guardar o grão como alimento para entressafra e como sementes para o próximo cultivo. Nesse armazenamento, se fazia necessário o combate contra a umidade, problema recorrente na região das culturas de regadio, e contra insetos, aves granívoras e roedores. A sequeira corresponde a uma grande construção de estrutura dispendiosa, junto às eiras, com portadas grandes para abrir em dias de sol, viradas para o Sul, e parte posterior ripada, para circulação de ar. Já o espigueiro, geralmente em forma de paralelepípedo, é uma construção elevada, com pés com mós, ou mesas, para impedir a ascensão de roedores, faces laterais com ripado estreito para impedir a entrada de aves granívoras e garantir ventilação, telhado de duas ou quatro águas e porta instalada no topo. Moura especula sobre suas possíveis origens, sugerindo que vieram de antigos canastros, de “cestaria dura”, feitos de varas de castanheiro, salgueiro e outras plantas, provavelmente já elevados antes da vinda dos Romanos. A primeira representação gráfica de um espigueiro aparece no séc. XIII e a primeira descrição, em castelhano, no final do séc. XVII. Esboça, ainda, uma evolução dos espigueiros galaico-portugueses. Os primeiros seriam grandes cestos, de forma circular, com paredes inclinadas para fora, de cestaria ou cestaria dura, usados desde o neolítico e chegando até nossos dias. Menciona ainda os “cabaços”, de formato oblongo ou retangular, recentemente desaparecidos. A romanização, no séc. II a.C, trouxe cereais mais produtivos de outros recantos do Império e levou ao uso da madeira e a adoção da forma retangular, com exemplares que também sobreviveram. A “petrificação”, ou substituição da madeira pelo granito, é etapa incerta e, atualmente, registram-se espigueiros em tijolo e concreto armado. Em seguida, Moura descreve, em linhas gerais, a estrutura dos espigueiros que é constituída de “assento” e “corpo”. O assento possui: alicerces, ou “socos”, com fundações enterradas ou não; “pés”, para expor ao vento e afastar os grãos da umidade e dos animais, dispostos em pontaletes e pares ou como muros transversais; e “mesas” ou “mós”, respectivamente peças retangulares ou circulares, para bloquear a ascensão de animais. O corpo é composto por: “base”, formada por duas peças de pedra ou madeira, únicas ou ementadas, e “grade” ou “soalho”, também de pedra ou madeira; “esqueleto”, estrutura composta por colunas, prumos, lintéis, padieiras da porta e frechais; “paredes”, que são de pedra, de madeira, em ripados diversos (horizontal, vertical ou oblíquo), ou outros materiais modernos; “portas” e “postigos”; “escoras”; e “telhado”, com duas ou quatro águas, de palha de centeio, telha de todos os tipos ou de pedra que, por sua vez, pode ser lousa, micaxisto, piçarra ou granito. O autor estabelece ainda uma tipologia, dividindo os espigueiros em estreitos, largos, altos, de tijolo e cimento e incorporados. Os espigueiros estreitos, unidirecionais, são divididos naqueles de parede vertical e de parede inclinada, e subdivididos naqueles em pedra, em pedra e madeira ou somente de madeira, com ripado vertical e com ripado horizontal (podendo ter ou não cárpea e guarda-vento). Os espigueiros largos, por sua vez, possuem planta quadrada e, embora com cobertura única, têm dois compartimentos retangulares e corredor central. São também divididos nos de paredes verticais (de pedra e madeira ou exclusivamente de madeira) e nos de paredes inclinadas. Os espigueiros altos, já desaparecidos, se desenvolvem em altura, sobre uma base precária. Cada um desses tipos se desenvolve em outros tipos nomeados a partir de localidades, a exemplo dos de Gondomar, Um aspecto fundamental é que a presença ou ausência de certos materiais não são condicionantes para as escolhas construtivas ou para a adoção dos tipos. 
Data do Preeenchimento: 
sábado, 12 Outubro, 2013 - 12:15
Pesquisador Responsável: 

Daniel Juracy Mellado Paz

Data da revisão: 
quarta-feira, 18 Junho, 2014 - 13:00
Responsável pela Revisão: 

Marcia Sant’Anna

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