Obra feita a partir de exposição sobre arquitetura rural italiana na VI Trienal de Milão, em 1936, fartamente ilustrada com fotografias. O estudo da casa rural italiana, a genuína tradição autóctone do país, busca demonstrar seus valores estéticos e sua funcionalidade e imunizar-se contra a retórica pomposa do que fora até então a história da arquitetura, que se concentrava no valor estético orientado à forma áulica adotada nas construções maiores – o templo, a igreja, o palácio – com ênfase no gênio como manifestação do gosto da época. A obra parte do pressuposto de que a arquitetura surge como resolução de uma necessidade técnica ou funcional, com a sobrevivência da forma resultante incorporada a novas funções. A arquitetura rural é a primeira vitória do homem no esforço de obter da terra seu próprio sustento, quase uma expressão do subconsciente. Honesta, sem falsificação estilística e rigorosamente cumprindo sua funcionalidade lógica, a casa rural adaptava-se em função do desenvolvimento geral da relação do homem com a terra; das condições geológicas, climáticas, agrícolas e econômicas do meio, como produto do espírito humano e uma coisa viva. Por isso, o fundamental seria o estudo de sua evolução. As mudanças foram graduais, adaptando elementos da fase anterior a partir de três fatores: material de construção, clima e economia agrícola. A tendência geral seria abolir o material leve de vedação em busca de materiais mais resistentes e duradouros, em paralelo com a mudança no modo de vida do pastor nômade ao agricultor sedentário. O resguardo do feno levou à criação do palheiro, cuja forma primitiva é a cilíndrica, com o feno em torno de um mastro e uma cúpula ou cobertura cônica para proteção contra a chuva. O uso do seu interior para abrigo deu origem à cabana de palha. A limitação inerente de tamanho devido à ausência de madeira de porte levou à soma de um outro círculo e à obtenção da planta elíptica. Seu desenvolvimento posterior gerou a planta retangular com telhado de quatro águas. Enquanto se usa a palha como cobertura, a declividade se mantém acentuada, como nos países nórdicos. A adaptação a um teto de duas águas é recente, com execução mais fácil, porém exigente em relação ao rigor da geometria e que requer a aparição da parede onde estão os frontões. Nessa evolução geral, da forma circular à quadrada, foi-se da célula única ao agregado de células, da planta composta à fusão em uma planta alongada. No sul do país, dada a escassez de madeira, a palha foi substituída diretamente para a cobertura em pedra, abandonando-se a estrutura em grelha e adotando-se a alvenaria. A cobertura cônica se rebaixou e se tornou cúpula, mantendo seu caráter celular. Outra transformação foi na maneira de manter o fogo doméstico: na cabana primitiva, a lareira era um buraco escavado com a fumaça saindo pelas frestas da cobertura. A inovação da chaminé permitiu o escoamento da fumaça, porém sua localização era ditada pelo clima: dos ventos frios, que investem contra certas partes da casa, e dos ventos, em geral, que podem levar as centelhas para a cobertura, exigindo que se destacasse como volume na construção geral. Da cabana de palha do pastor à cabana de pedra do lavrador, a forma permaneceu e se na primeira, o elemento principal era o mastro central, o seu abandono deixou a permanência da decoração no cume da cobertura, a exemplo das cruzes. O trullo, construção de alvenaria de pedra e cobertura em falsa cúpula no mesmo material, de célula única, é a primeira etapa de uma nova cadeia de transformações até a planta quadrada, ultrapassando-se os limites de tamanho das casas de palha, com o emprego de material aglomerante, como a pozolana, e o uso de tufo, pedra-pomes e tijolos. A cúpula se desenvolve em outras formas: como o pavilhão, a abóbada de berço, a abóbada de aresta e, por fim, o teto plano, cobertura típica dos países mediterrâneos e a máxima conquista técnica no edifício, mostrando que o teto plano da arquitetura moderna não era algo estranho à tradição italiana. O terraço possui a qualidade de recolher a água da chuva para alimentar cisternas, bem-vindo em áreas com poucas e intensas chuvas. Outro elemento que deu lugar a transformações significativas foi o pombal, que da planta circular passou à quadrada, tornando-se um novo elemento arquitetônico, empregado como local de depósito e de secagem e mesmo para fins estéticos. As fenestrações que serviam para aeração dos celeiros e sótãos se incorporaram como motivo decorativo. O cultivo de milho trouxe mudanças na arquitetura, com a necessidade de proteger as espigas das chuvas. As formas elementares dessa proteção são estruturas suspensas em madeira, ancoradas nas paredes, que acumulam o calor do dia e irradiam à noite, ajudando na secagem das espigas, origem do balcão de madeira. O aperfeiçoamento gradual em solidez e praticidade leva ao uso de pilares de alvenaria para, depois, adotar a estrutura mural que torna tal dispositivo uma loggia. O elemento em alvenaria capaz de desempenhar melhor esse serviço é o arco, empregado por razões práticas e não estilísticas. Fonte inesgotável de ensinamentos estéticos é a escada exterior, particular dos edifícios da Itália central e meridional, permitida pelo clima e necessária para separar o térreo, com o estábulo e depósitos, da planta superior da moradia. A escada é sentida como valor de composição volumetricamente puro, livre de toda sugestão retórica ou acadêmica. Na casa rural não há preocupação que não coincida com uma necessidade prática, funcional ou construtiva, cuja expressão plástica depende da forma do terreno, da orientação do sol, do material empregado e da necessidade interior: portas, janelas, escada e cobertura são determinadas por tais exigências. A fantasia arquitetônica é limitada aos elementos de composição, tendendo ao ritmo cadenciado com a repetição dos idênticos elementos estruturais, sendo uma arquitetura singela e anônima, na qual se faz visível a redescoberta da comoção do poeta construtor em vez do cenógrafo: teto plano, o bloco puro com o mínimo de adições e decorações acidentais, a composição assimétrica, a força expressiva da parede plena, a influência da paisagem circundante e a coerência funcional e técnica.