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Simpósio sobre Arquitetura Popular no V ENANPARQ 2018
Simpósio sobre Arquitetura Popular no V ENANPARQ 2018
Igatu / Chapada Diamantina-Ba, 2016.
Espigueiros. Portugal, 2017.
Espigueiros. Portugal, 2017.

Portugal

Autor(es): 

Raquel Soeiro de Brito

Onde encontrar: 

Acervo da Prof. Márcia Sant'Anna

Referência bibliográfica: 

BRITO, Raquel Soeiro de. Palheiros de Mira - formação e declínio de um aglomerado de pescadores. Lisboa: Instituto de Alta Cultura/ Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, 1960.

Eixos de análise abordados: 
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Tecnologia tradicional no território e na edificação: vigências e usos contemporãneos
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra: 
Maria Raquel Viegas Soeiro de Brito (1925) é geógrafa portuguesa, professora extraordinária (1960-66) e catedrática (1966-77) no Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina e na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (desde 1977). É também professora titular da Universidade de Paris X (1980-81). Em 1967, ganhou o Prêmio Internacional Almirante Gago Coutinho pelo trabalho Goa e as Praças do Norte. Dirigiu a revista da Sociedade de Geografia de Lisboa, Geographica. Foi discípula de Orlando Ribeiro e membros da chamada “Escola de Geografia de Lisboa”. É autora de vasta bibliografia sobre Geografia Física e Humana. A obra em exame foi publicada pela primeira vez em 1960. 
Sumário obra: 

Prefácio, de Orlando Ribeiro.

I – As construções de madeira no litoral

II – Origem e desenvolvimento da povoação

III – Fisionomia da população

IV – A população

V – A pesca e os pescadores

VI – A vida rural

VII – Comércio e indústria

VIII – O plano de urbanização: destino do aglomerado

IX – Remate

Bibliografia

A – Figuras

B – Estampas

C - Mapas

Resumo : 
Obra que estuda etnograficamente um povoado de pescadores, o Palheiros de Mira, e vem acompanhada de boas e ilustrativas fotografias e mapas. Tanto no prefácio de Orlando Ribeiro como no início e conclusão do livro, o ponto de partida das preocupações são os “palheiros”, expressão arquitetônica singular e desenvolvida de modo autóctone em relação pedra, adobe ou taipa) e ameaçada pela gradativa extinção de construções similares no litoral português. São excepcionais diante das demais expressões populares pela qualidade do acabamento, pelo porte das construções, pela presença no povoado e pelo seu estado de preservação. Estão, no entanto, em risco pelas mudanças sociais e pela ação do planejamento urbano. O trecho do sul da barra do Aveiro ao cabo Mondego é um dos maiores desertos humanos de Portugal. Os aglomerados de pescadores ali são recentes, do começo do séc. XIX, com a expansão demográfica do interior. O que antes era pesca de temporada, do fim da Primavera a meados de Outono, tornou-se assentamento perene, com população flutuante pela sazonalidade da pesca. Entre 1860 e 1870, a população já estaria fixada em Palheiros de Miro. A procedência diversa de seus imigrantes entre 1835 e 1875 resultaria na ausência de laços comunitários mais consolidados. Apesar da atração de gente, a instabilidade de seus proventos acarretava emigração estacional e mesmo temporadas no Brasil. Palheiros de Mira se divide entre o mar e o campo, com o desenvolvimento paralelo da pesca e do cultivo. O cultivo local se dá nos quintais e nos prazos, terrenos divididos em lotes longilíneos, perpendiculares às estradas. A fertilização do solo arenoso se fazia com o moliço – lodo e ervas extraídos das lagoas –, sobras de caranguejos e peixes, estrume do gado e, mais recentemente, somando-se adubos químicos. A pesca ocorria no mar aberto, sazonalmente, e nas lagoas internas, constante ao longo do ano, por meio de chinchas e pimpoeiras. Em mar aberto, a principal é a xávega, pesca de arrasto que envolve toda a comunidade, de resultado desigual de um ano a outro a depender da proximidade dos cardumes. Outra alternativa é a pesca de bacalhau nos bancos da Terra Nova, com bom retorno financeiro mas acarretando a ausência dos homens. A pesca moderna de traineiras, saindo de portos vizinhos, tem o mesmo efeito. Ocupação principal do povoado, a pesca é realizada pelos homens; cabendo às mulheres o auxílio pontual, como os cuidados com as redes, e a agricultura. No entanto, no Inverno, os homens trabalham, nos arrozais do vale do Sado, executando serviços de enxada. A pesca se organizava em companhas, cada qual com armazéns para a guarda de redes; casas de fornalha para tingi-las e abegoarias para a guarda de gado. Essas construções situam-se após as dunas, defronte ao mar. O povoado situa-se entre o mar e a lagoa, atrás do cordão litorâneo dunar e ao sul de uma elevação, o medo grande, que o resguarda dos ventos litorâneos e do norte. As construções se caracterizavam pelo uso de uma gramínea, o estormo ou estorno, na cobertura, daí palheiros. Uma característica destas construções, entre Nazaré e Aveiro, é que, ao contrário dos similares praianos, estão suspensos sobre estacas, com areias e águas circulando por baixo. Esse espaço inferior se viu, ao longo do tempo, fechado com ripas horizontais, acrescido como depósito de utensílios e mantimentos. Outras transformações seguiram-se. A palha do telhado de duas águas foi substituída pela madeira, também em extinção, e depois trocada pela telha cerâmica portuguesa. As chaminés, antes de madeira e cobertas com folhas de zinco, passaram a ser de tijolo. Os fornos são de tijolos, assentes sobre a estrutura em madeira, onde se fazia antes o pão de milho, base da alimentação, depois substituído pelo pão comprado em padarias. A quase totalidade das casas no povoado era de madeira, com dimensões não encontradas no litoral e outros lugares, de até mesmo 3 andares. As divisões internas geralmente não chegavam ao teto, e a ampliação se dava ligando duas ou mais casas por portas ou passadiços suspensos sobre as vias. Uma das mudanças sócio-econômicas foi a procura do povoado para banhos de mar, explicando o número relativamente elevado de comércios e serviços, ativos no Verão, animando o pequeno vilarejo, com o aluguel de quartos e mesmo de casas por interior. Algo aos meios culturais vizinhos, com uso exclusivo de pinho e gramíneas do local (ao invés da da atividade agrícola modificou-se com a introdução do trator, levando à substituição do gado de trabalho pelo leiteiro. Mas, sobretudo, a competição industrial das traineiras diminuiu o retorno da atividade pesqueira local, e atraiu sua força de trabalho masculino. Em compensação, as famílias mais abastadas eram as que se envolviam na pesca das traineiras ou em Terra Nova, ou que possuem um comércio maior. Duas fabriquetas locais de tijolo de cimento forneciam a preço baixo o material de construção que vem substituindo as tradicionais casas de madeira, motivo de vergonha da população. Mas esta substituição foi reforçada pela atuação estatal. O Plano de Urbanização de 1948, realizado pelos Serviços de Urbanização, definiu a arquitetura dos palheiros como insalubre e a economia agrícola e extrativista como insuficiente. Seria necessário fomentar o turismo e substituir as moradias. O turismo deveria ter infraestrutura própria e segregar-se da pesca, evitando conflito e ocupando o espaço tradicional desta. Em 1953, a Câmara Municipal de Mira proibiu consertos das casas de madeira, acelerando o seu arruinamento. O plano previa na praia, onde estavam as dependências da pesca, barracas para banhos; próximos à praia, pensões, hotéis e repartições de turismo. Os pescadores foram relocados ao norte do “medo grande”, expostos aos ventos frios, em moradias inconclusas de alvenaria, demonstrando insensibilidade para com uma expressão arquitetônica de elevada qualidade, singularidade e expressão estética. 
Data do Preeenchimento: 
terça-feira, 16 Abril, 2013 - 13:00
Pesquisador Responsável: 

Daniel Juracy Mellado Paz

Data da revisão: 
domingo, 15 Junho, 2014 - 12:00
Responsável pela Revisão: 

Marcia Sant’Anna

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