No Estado do Pará, especificamente, na sua capital Belém, podem ser observadas diversas edificações que se utilizaram da técnica construtiva denominada taipa de mão. Para melhor contextualização, desta técnica vernacular que é tão fundamental, cita-se um exemplo de edificação construída aos seus moldes e que serve como estudo de caso para este trabalho, a residência, Canto do Sabiá. Esta propriedade foi adquirida em 1933 pelo alemão Carl Fetcher, a fim de servir como casa de veraneio para a sua família. A propriedade já possuía uma construção residencial com características coloniais e foi modificada segundo os interesses do dono. Fetcher veio para o Brasil trabalhar na empresa Berringer & Cia e, como ele, muitos estrangeiros se assentaram na região, em decorrência ao ápice da produção de borracha na Amazônia. Esses estrangeiros foram responsáveis por grandes transformações tecnológicas na região, que ainda era configurada por um cenário bastante colonial. A residência “Canto do Sabiá”, situada à Rua Nossa Senhora do Ó, no bairro da Vila, na Ilha de Mosqueiro, possui volumetria requintada, características de um chalé urbano, próprio do estilo eclético do século XX, e grande semelhança com edifícios que podem ser encontrados em regiões da Alemanha na Europa. Um traço marcante da arquitetura alemã apresentado no edifício, são as marcações em argamassa na sua fachada, semelhantes aos tramos usados no sistema enxaimel (sistema construtivo alemão), que foram incorporados à residência, em virtude da origem da família. Porém, é necessário entender que a técnica utilizada no “Canto do Sabiá” foi a taipa de mão proveniente de Portugal. O sistema enxaimel é apenas evocado pelos relevos em massa na fachada do edifício, empregado apenas como um recurso estético e identitário. A taipa é, genericamente, uma técnica construtiva vernacular, que se utiliza de terra molhada ou umedecida, sem que este material seja passado por nenhum processo de melhoramento de sua composição, ou seja, usado em sua forma natural. Existe mais de um tipo de taipa sendo que, a taipa de pilão e a taipa de mão, empregada no edifício em estudo, são as formas mais utilizadas no Brasil. A taipa de mão, ou também denominada no Estado do Pará como tabique, possui um sistema de amarração feito com cipó, no qual se cria um painel transfurado que é finalizado a partir do preenchimento desse com o barro. A taipa de mão está presente em muitas regiões do Brasil, e a divulgação do “saber fazer” esta técnica é um modo de preservá-la, já que se apresenta como patrimônio imaterial brasileiro e mundial. A casa de taipa tem valor histórico, principalmente para a história da técnica construtiva, e, mais uma vez, conservar essas tradições culturais populares é indispensável, perpetuando as suas práticas e também as suas transformações. Sendo assim, o estudo das técnicas tradicionais contribui para garantir a sua continuidade e o seu, aperfeiçoamento.