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Simpósio sobre Arquitetura Popular no V ENANPARQ 2018
Simpósio sobre Arquitetura Popular no V ENANPARQ 2018
Igatu / Chapada Diamantina-Ba, 2016.
Espigueiros. Portugal, 2017.
Espigueiros. Portugal, 2017.

Entra em beco, sai em beco: formas de habitar o centro: Salvador e Lisboa

ISBN ou ISSN: 

978-85-232-1844-7

Autor(es): 

Urpi Montoya Uriarte

Onde encontrar: 

Biblioteca da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.

Referência bibliográfica: 

URIARTE, Urpi Montoya. Entra em beco, sai em beco – formas de habitar o centro: Salvador e Lisboa / Urpi Montoya Uriarte. – Salvador: EDUFBA, 2019.
 

Eixos de análise abordados: 
Conceitos e métodos
Saberes tradicionais e espaço arquitetônico
Território e etnicidade
Dados sobre o autor(es) e obra: 

Possui graduação em Antropologia pela Universidad Nacional Mayor de San Marcos, LimaPeru (1992), doutorado em História Social (área de História da Cultura) pela Universidade de São Paulo (1997), pós-doutorado na Universidade Federal de Pernambuco (2009) e ISCTEInstituto Universitário de Lisboa (2017). Tem experiência na área de Antropologia Urbana, buscando aproximações com a História Urbana e o Urbanismo. Atua principalmente nos seguintes temas: espaços urbanos, centros históricos, usos da cidade, formas de habitar e espaço, patrimônio e memória. 

Informações obtidas em: http://lattes.cnpq.br/1763130968164564

Sumário obra: 

1. Introdução
2. Capítulo 1 – Um panorama histórico da Baixa dos Sapateiros
3. Capítulo 2 – Habitações populares do Centro de Salvador
4. Capítulo 3 – Becos/avenidas da Baixa dos Sapateiros
5. Capítulo 4 – Habitar a vizinhança: práticas do habitar em becos/avenidas da Baixa dos Sapateiros
6. Capítulo 5 – Habitar sem vizinhos: um pátio do centro de Lisboa
7. Capítulo 6 – O habitar comunitário: memórias dos expulsos e relocados do antigo Pelourinho na Baixa dos Sapateiros.
8. Capítulo 7 – Habitar com dignidade e habitar coagido: casarões ocupados no CHS
9. Conclusões
10. Referências
 

Resumo : 

Este livro é fruto de uma pesquisa de pós-doutorado, institucionalmente alocada no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE) entre agosto de 2016 e julho de 2017. Descreve e analisa alguns tipos habitacionais específicos – fileiras de casas em becos, casas ao redor de um pátio, habitações em casarões ocupados – e as formas como neles se habita. A etnografia foi o método utilizado para a produção dos dados, mediante a relação constante e frequente com interlocutores. Segundo Montoya, é um trabalho de alguns lugares, poucas pessoas e densas relações, que revela com profundidade processos específicos, relações cotidianas e cenas concretas. A área abordada foi o centro de Salvador, mais precisamente a Baixa dos Sapateiros e diversos microterritórios nas suas intermediações, cada um com suas especificidades. O livro se divide em sete capítulos. No primeiro, é descrita a Baixa dos Sapateiros e traçado um panorama histórico dessa área, indispensável para situá-la e entender suas origens e posterior desenvolvimento. No segundo, a autora se detém nas habitações populares do centro, ou seja, nas lojas, casarões subdivididos, cortiços e “avenidas” em becos, descrevendo historicamente seu surgimento e evolução apresentando uma vasta revisão bibliográfica sobre a temática. O terceiro capítulo é uma descrição em profundidade dos três becos/avenidas pesquisadas. O quarto analisa as práticas do habitar nos lugares descritos no capítulo anterior, caracterizadas por englobar diversas práticas de estar-com, engajar-se e enraizar-se com e num espaço que não se limita à casa ou ao beco onde se reside, mas implica os becos vizinhos e toda uma área adjacente. A autora usa o termo habitar a vizinhança, fazendo referência tanto uma qualidade – relações de proximidade – quanto a uma região física que inclui um local e seus arredores ou imediações, isto é, uma área maior e não restrita.  Assim, habita-se a vizinhança quando a casa, o beco e a área formam um único espaço vivido, isto é, percorrido, familiarizado e memorizado, entre os quais circulam todo tipo de elementos – parentes, conhecidos, objetos, valores, cheiros, sonos, refeições, conversas etc. O quinto descreve o Pátio do Broas, no centro de Lisboa, e qualifica o habitar que nele se desenvolve como um “habitar sem vizinhos”, já que os inquilinos, a maioria estrangeiros, são empregados nos setores ligados ao turismo, e trabalham em restaurantes e hostels em áreas próximas, não dispondo de tempo comum algum para encontros ou produção de um habitar em vizinhança. O sexto se concentra nas memórias dos expulsos e relocados do Pelourinho, após intervenções urbanas, que habitam nos becos/avenidas pesquisados, enfatizando o habitar comunitário que vivenciaram nos cortiços nas décadas de 1970 e 1980. O último capítulo é dedicado ao habitar nos casarões ocupados por sem-teto no Centro Histórico de Salvador (CHS), distinguindo-se neles dois tipos de habitar: o “habitar com dignidade” e o “habitar coagido”. No primeiro, valoriza-se o espaço e o convívio regrado entre vizinhos, resguardando-se fortemente a privacidade de cada unidade familiar; no segundo, muitos moradores se apinham em pequenos espaços e suas relações confundem-se com trocas ásperas ou conflituosas, marcadas pela desconfiança ou pelo medo. O habitar com dignidade advém de ocupações nas quais a seleção dos moradores foi bastante criteriosa e de prédios onde o convívio é pautado em regras claras, resguardadas por uma liderança feminina com muita autoridade. Por outro lado, o habitar coagido deriva de ocupações antigas nas quais houve e há uma alta rotatividade de moradores, o que dificulta o conhecimento e a confiança entre moradores e onde as regras e a liderança acabaram sendo cooptadas pela minoria de membros ligados ao tráfico de drogas. Os lugares apresentados, apesar de suas diferenças, são espaços que partilham a mesma invisibilidade, são escondidos e camuflados, e também, no imaginário de grande parte dos habitantes da cidade, lugares perigosos que é preciso evitar. A pesquisa mostrou, no entanto, que becos, cortiços, casarões ocupados e pátios escondidos são lugares de alteridade. Na medida em que se trata de espaços opacos, isto é, afastados das regras e da supervisão que regem os espaços luminosos, conforme os conceitos de Milton Santos, pode-se neles fugir da estandardização, da uniformidade, da coisificação do espaço e, assim, subverter normas ou criar outras para habitar de diversas maneiras. O espaço construído nesses lugares se articula de diversas formas com a particular situação econômica de seus moradores, suas heranças culturais, ciclos familiares, trajetórias residenciais, situação jurídica do solo e políticas públicas nas áreas onde se situam. Os resultados desta pesquisa levam a sustentar que a natureza do laço social entre os vizinhos não pode ser especificada de antemão, sendo o resultado de uma combinação de variáveis, tais como a morfologia dos lugares, o regime de propriedade, a antiguidade no local, as possibilidades de mobilidade residencial, entre outras. A autora aponta que o centro, embora concentre atividades comerciais, institucionais, religiosas, educativas, também é local de moradia, espaço habitado e lócus de experiências sociais populares bastante significativas. Nele, conforme demonstrado pela pesquisa, desenvolve-se o direito à centralidade que complementa e enriquece a reivindicação do direito à cidade, o que supõe a junção de trabalho, estudo, residência e lazer em uma mesma área percorrida cotidianamente e a pé, implicando, assim, o uso máximo do espaço. Por fim, a autora sinaliza que espera que o trabalho contribua para além da teoria antropológica, podendo efetivamente servir de subsídio para o necessário repensar das políticas habitacionais, uma vez, que a habitação não resolve a questão mais profunda e fundamental do habitar e que a centralidade para os moradores do centro não é apenas uma questão de localização, num mapa abstrato e desencarnado, mas um direito amparado numa forma de habitar essa área, mediante percursos cotidianos a pé em busca da sobrevivência e trajetórias residenciais que, em conjunto, reproduzem uma extensa rede de relações sociais e parentais que sustentam uma profunda ligação afetiva com o espaço. Alerta também que o princípio da função social da propriedade deve prevalecer nas habitações ocupadas que conseguem um habitar com dignidade, que inventam um habitar com regras autônomas, onde os espaços coletivos e privados são resguardados e onde o tráfico não entra. Trata-se de experiências de autogestão, dignidade, defesa do direito à centralidade e luta pelo direito à cidade, que precisam ser reconhecidas como vitoriosas e alentadas como tais. 
 

Data do Preeenchimento: 
quarta-feira, 2 Outubro, 2019 - 15:45
Pesquisador Responsável: 

Ana Luíza Teixeira Silva

Data da revisão: 
quarta-feira, 20 Novembro, 2019 - 15:45
Responsável pela Revisão: 

Marcia Sant’Anna