Após uma biografia de Luís Saia com dados da sua trajetória profissional e experiência profissional, o autor lida com a interpretação sobre a casa bandeirista. Para ele, embora as casas-grandes do séc. XVII fossem habitação popular, necessitam o estudo da sociedade da época para sua plena compreensão, incluindo a ocupação pioneira do altiplano interior com economia baseada na guerra e apresamento de indígenas para a produção em regime de servidão. No último quarto do séc. XVIII, com a escassez dessa mão-de-obra, tornara-se uma economia policultora comercial. A planta das moradias, estável durante essa transformação, deveria corresponder a um programa funcional às demandas sociais. Nela, o espaço frontal coberto, o alpendre, dava acesso ao interior e a dois cômodos laterais sem comunicação com a casa: um quarto de hóspedes e um oratório. Enquanto o interior doméstico era protegido, a faixa frontal guardava a intimidade, funcionando como lugar de recepção. Ali ficavam os que vinham de fora – sacerdotes, hóspedes, vizinhos, viajantes –; o senhor recebia agregados e gente a seu serviço e servia como adro do oratório para as cerimônias mais públicas. Atrás da faixa de transição, uma sala central com quartos distribuídos ao redor. A morada era estratificada, como a sociedade. Por último defende a procedência renascentista da planta, caracterizada pela simetria, regularidade geométrica e vertente erudita que lhe dava forma, com elementos da tradição mediterrânea. A identificação do alpendre e seu nome foi questionada por Aracy Amaral nos anos 1970, que o chamava de “corredor”, prova de sua tese da origem espanhola da morada paulista. Carlos Lemos em 1969 fizera a mesma reprovação ao termo “alpendre”, tomando-o como influência castelhana pontual, e não o estuda em conjunto com o interior da planta, mero agrupamento retangular de compartimentos, traçado espontâneo atendendo às exigências estruturais da taipa, sem correspondência com a ordem social. O autor endossa a hipótese de Saia quanto ao uso do termo “alpendre”, a partir de farta documentação. Por sua vez, o “corredor” correspondia a outro espaço nas casas-grandes: a um tabuado sob a armação do telhado, como um forro, criando um segundo piso, sem cobrir o alpendre e a sala central, funcionando como câmara térmica e área extra e pertencendo às esferas mais íntimas da casa.