Texto pioneiro sobre o tema com fotos de casa sobre palafitas no Amazonas, barracos da favela do Pasmado (Rio de Janeiro), casa de pescador na favela de Maria Angu e casa de palha no Maranhão. O autor observa que a arte popular é aquela das camadas mais pobres. No entanto, apesar de a música e pintura populares possuírem aceitação, o mesmo não se passava com os barracos, mocambos, casas sobre palafitas e demais exemplares de arquitetura popular, à qual não se dera ainda atenção como fenômeno arquitetônico. Essa arquitetura é muito ditada pelas circunstâncias, pelos terrenos disponíveis e utilizados – alagadiços, com alta declividade, inacessíveis – e materiais empregados – tábuas, madeira retirada de matas próximas, latas, palha de coqueiro, capins – isto é, pela miséria e pelo objetivo imediato de lograr um abrigo. Apesar disso é legítima manifestação da arte popular, rica em sugestões, ritmos e invenções. O autor encontra constância de proporções nos barracos de favelas, com insistência uniforme de linhas, plantas geralmente em retângulos alongados, fachadas principais definidas pela cobertura em “chalet”, e largura aproximadamente igual à altura do piso à cumeeira, algo de estandardização das medidas de portas e janelas, e emprego frequente de varandas, fronteiras ou laterais, que dão o ritmo dessas casas, acompanhando toda a fachada ou em um pequeno espaço, geralmente cobertas e providas de peitoris simples, de tipos e materiais variados. Os mocambos seguem as mesmas proporções, embora feitos de materiais diferentes, alguns ausentes nas favelas, como a palha de coqueiro. Nos mocambos inteiramente construídos com palha, como nas praias nordestinas, o trançado é variado. Nas casas sobre palafitas do Amazonas, é recorrente o uso de varandas, embora com proporção final diferente daquelas das favelas. Observa ainda o emprego das cores: quando o dinheiro permite, sempre de origem terrosa, e intensas, com verdes velhos, azuis sombrios, roxos-terra, para ele, indícios de alguma revolta e melancolia. Os jardins são difíceis de realizar nas favelas, pela aglomeração, aparecendo pequenos espaços cultivados suspensos sobre jiraus. Em lugares mais afastados, aparecem com cercas de ripas ou de faxinas ou mesmo cercas vivas de papoulas, maria mole ou capim-açú, latadas de plantas trepadeiras, em especial o lava-prato e o maracujá. As ruas são estreitos caminhos entre casas aglomeradas, muitas vezes apenas escadas com degraus gigantescos se infiltrando por entre os barracos, com tratamento mínimo, configurando um burgo miserável, sem muralhas e sem castelo.